Pero da Ponte


Dom Tisso Pérez, queria hoj'eu
seer guardado do trebelho seu
[j]á per doar-lh'o batom que foi meu;
mais nom me poss'a seu jogo quitar;
5e, Tisso Pérez, que demo mi o deu,
       por sempre migo querer trebelhar?
  
De trebelhar mi há el gram sabor
e eu pesar, nunca vistes maior:
ca nom dórmio de noite com pavor,
10ca me trebelha sempre ao lũar.
[Que] demo o fezo tam trebelhador,
       por sempre migo querer trebelhar?
  
Cada que pode, mal me trebelhou;
e eu por en já mi assanhando vou
15de seu trebelho mao, que vezou,
com que me vem cada noit'espertar;
e Tisso Pérez, Demo mi o mostrou,
       por sempre migo querer trebelhar.



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Nota geral:

Nova e estranha incursão de Pero da Ponte no universo da homossexualidade. A cantiga é um equívoco que tem como ponto de partida as "horas extraordinárias" que Pero da Ponte diz ser obrigado a fazer ao serviço de D. Tisso Pérez: homem muito trabalhador, D. Tisso requer continuamente os seus serviços, especialmente à noite. Embora a cantiga seja dita na primeira pessoa, esta "confissão" de Pero da Ponte não parece, em termos autobiográficos, muito verosímil, sobretudo se atendermos ao modo, jocoso mas claramente condenatório, como os trovadores abordam normalmente a questão da homossexualidade. Embora não venha acompanhada de nenhuma rubrica explicativa que nos pudesse clarificar a questão, a hipótese de a cantiga ser um maldizer aposto (posto na boca de um terceiro) poderá eventualmente ser colocada.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1657, V 1191

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1657

Cancioneiro da Vaticana - V 1191


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas