Pero da Ponte, Garcia Martins


- Dom Garcia Martĩins, saber
queria de vós ũa rem:
de quem dona quer m[u]i gram bem
e lhi rem nom ousa dizer
5com medo que lhi pesará
 e non'o possa mais sofrer,
dizede-mi se lho dirá,
ou que mandades i fazer.
  
- Pero de Ponte, responder
10vos quer'eu e dizer meu sem:
se ela pode, per alguém,
o bem que lh'el quer, aprender,
sol nom lho diga; mais se já
por al non'o pod'entender,
15este pesar dizer-lho-á,
e pois servir e atender.
  
- Dom Garcia, como direi,
a quem sempr'[a]mei e servi,
atal pesar, por que des i
20perça quanto bem no mund'hei:
de a veer e de lhi falar?
Ca sol viver nom poderei,
pois m'ela de si alongar.
E desto julgue-nos el-rei.
  
25- Pero de Ponte, julgar-m'-ei
ant'el-rei vosc'e dig'assi:
pois que per outrem, nem per mi,
 mia coita nom sabe, querrei
dizê-la; e se s'en queixar,
30atam muito a servirei;
que, per servir, cuid'acabar
quanto bem sempre desejei.
  
- Dom Garcia, nom poss'osmar
com'o diga, nen'o direi;
35a que[m] servi sempr'e amei,
como direi tam gram pesar?
  
- Pero de Ponte, se m'ampar
Deus, praz-mi que nos julgu'el-rei.



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Nota geral:

Esta tenção é uma das raras tenções de amor que nos transmitiram os Cancioneiros. Nela Pero da Ponte e Garcia Martins discutem a questão colocada pelo primeiro: deve o apaixonado declarar o seu amor à sua senhora, mesmo sabendo que tal coisa lhe fará pesar? A posição de Garcia Moniz é otimista: o apaixonado deve arriscar e esperar. Mas Pero da Ponte confessa que não terá nunca coragem para tal.
O apelo final ao rei (muito certamente Afonso X) para que julgue as duas posições mostra-nos como estas disputas eram essencialmente jogos artísticos em que cada interveniente procurava demonstrar o seu engenho e o seu talento na arte de trovar.
Acrescente-se que a última finda, de Garcia Martins, é completamente irregular (uma vez que deveria ter 4 versos, como a de Pero da Ponte). Embora ela faça aparentemente bom sentido, é possível, pois, que haja qualquer problema de transcrição.



Nota geral


Descrição

Tenção de amor
Mestria
Cobras doblas
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Fontes manuscritas

B 1652, V 1186

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1652

Cancioneiro da Vaticana - V 1186


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas