Pero da Ponte


De [Dom] Fernam Diaz Estaturão
oí dizer novas, de que mi praz:
que é home que muito por Deus faz
e se quer ora meter ermitão;
5e fará bom feito, se o fezer;
de mais, nunca lh'home soube molher
des que nasceu, tant'é de bom cristão.
  
Este tem o Paraís'en[a] mão,
que sempr[e] amou, com sem cristão, paz;
10nem nunc'amou molher nem seu solaz,
nem desamou fidalgo nem vilão;
e mais vos [en] direi, se vos prouguer:
nunca molher amou, nem quis nem quer,
pero cata, falagueir'e loução.
  
15E [em] tam bõo dia foi [el] nado
que tam bem soub'o pecad'enganar,
que nunca por molher rem [nom] quis dar,
e pero mete-s'el por namorado;
e os que o nom conhocemos bem
20cuidamos del que folia mantém,
mais el d'haver molher nom é pensado.
  
Que se hoj'el foss[e] empardẽado,
nem se saberia melhor guardar
de nunca já com molher albergar,
25por nom se riir [i] del o pecado,
ca nunca deu por molher nulha rem;
e pero vedes: se o vir alguém,
terrá que morre por seer casado.
  
E pois [s']em tal castidade mantém,
30quand'el morrer, direi-vos ũa rem:
"Beati Oculi" será chamado.



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Nota geral:

Mais uma cantiga contra o meirinho de Afonso X, Fernão Díaz Estaturão, cujos alegados gostos homossexuais são aludidos por vários trovadores do seu círculo. Aqui é a sua (falsa) castidade o alvo da ironia de Pero da Ponte, numa composição que termina com um divertido jogo de palavras a partir de uma citação bíblica.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras doblas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1649, V 1183

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1649

Cancioneiro da Vaticana - V 1183


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas