Pero da Ponte


Noutro dia, em Carrion,
queria[m] um salmom vender,
e chegou i um infançom;
e, tanto que o foi veer,
5creceu-lhi del tal coraçom
que diss'a um seu hom'entom:
- Peixota quer'hoj'eu comer.
  
Ca muit'há já que nom comi
salmom, que sempre desejei;
10mais, pois que o ach'ora aqui,
custa nom recearei,
 que hoj'eu nom cômia, de pram,
bem da peixota e do pam,
que muit'há que bem nom ceei.
  
15Mais, pois aqui salmom achei,
querrei hoj'eu mui bem cear,
ca nom sei u mi o acharei,
des que me for deste logar;
e do salmom que ora vi,
20ante que x'o levem dali,
vai-m'ũa peixota comprar.
  
Nom quer'eu custa recear,
pois salmom fresco acho, Sinher!
Mais quero ir bem del assũar
25por enviar a mia molher
(que morre por el outrossi)
da balea que vej'aqui;
e depois quite quem poder!



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Nota geral:

Sátira a um infanção pelintra, centrada na compra de um salmão para o jantar - ou melhor, de uma posta, visto o peixe lhe parecer grande como uma baleia. O pagamento ficará à conta de quem de dispuser a isso.
Não é impossível, no entanto, que haja um sentido equívoco nesta cantiga, já que, como parece depreender-se de uma outra composição de Pero da Ponte, os termos "salmão" e "peixota" poderiam ter um duplo sentido erótico, apontando para relações homo e heterossexuais (o que ajudaria a explicar a referência final à mulher do infanção, nesta cantiga). Mas se há realmente este equívoco aqui, ele é relativamente impenetrável, pelo que o referimos a título de hipótese.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1632, V 1166

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1632

Cancioneiro da Vaticana - V 1166


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas