Paio Gomes Charinho, Afonso X


- Ũa pregunta vos quero fazer,
 senhor, que mi devedes afazer:
por que viestes jantares comer,
que home nunca de vosso logar
5comeu? [E] esto que pode seer,
  ca vej'ende os herdeiros queixar?
  
- Pa[a]i Gómez, quero-vos responder,
por vos fazer a verdade saber:
houv[e] aqui reis de maior poder
10[em] conquerer e em terras ganhar,
mais nom quem houvesse maior prazer
de comer, quando lhi dam bom jantar.
  
- Senhor, por esto nom dig'eu de nom,
de bem jantardes, ca é gram razom;
15mailos herdeiros foro de Leon
querriam vosco, porque ham pavor
 d'haver sobre lo seu vosc'entençom
e xe lhis parar outr'ano peior.
  
- Pa[a]i Gómez, assi Deus mi perdom,
 20mui gram temp'há que nom foi em Carriom,
nem mi derom meu jantar em Monçom;
e por esto nom sõo pecador,
 de comer bem, pois mi o dam em doaçom,
ca de mui bom jantar hei gram sabor.



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Nota geral:

Esta jocosa discussão de Paio Gomes Charinho com o rei tem como pano de fundo o tradicional direito medieval aos jantares, ou seja, a obrigação a que estavam sujeitos os vassalos de alimentar os seus senhores (e séquito) aquando da sua passagem pelos seus domínios. Este direito dos senhores (ou esta obrigação dos vassalos) não deixava de originar frequentes queixas e conflitos. É desta problemática que parte Charinho (talvez no final de um desses jantares), colocando-se na irónica posição de advogado do Diabo, neste caso, na posição dos herdeiros presumivelmente explorados pela gulodice real.
É possível que faltem as findas à composição, já que elas são quase obrigatórias nas tenções.



Nota geral


Descrição

Tenção
Mestria
Cobras doblas
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Fontes manuscritas

B 1624, V 1158
(C 1624)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1624

Cancioneiro da Vaticana - V 1158


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas