Afonso Soares Sarraça

Rubrica:

Afonso Soares Samça fez esta cantiga d'escarnh'e mal dizer e diz assi.


       Por en Tareija Lópiz nom quer Pero Marinho:
       pero x'el é mancebo, quer-x'ela mais meninho.
  
Nom casará com ele nem polos seus dinheiros,
e esto sabem donas e sabem cavaleiros,
5ca dos escarmentados se fazem mais ardeiros.
       Por en Tareija Lópiz nom quer Pero Marinho:
       pero x'el é mancebo, quer-x'ela mais meninho.
  
Nom casará com ele pola cobrir d'alfolas,
nem polos seus dinheiros velhos que tem nas olas;
10o que perdeu nos alhos quer cobrar nas cebolas.
       Por en Tareija Lópiz nom quer Pero Marinho:
       pero x'el é mancebo, quer-x'ela mais meninho.
  
Nom casará com ele por ouro nem por prata,
nem por panos de seda, quant'é por escarlata,
15ca dona de capelo de todo mal se cata.
       Por en Tareija Lópiz nom quer Pero Marinho:
       pero x'el é mancebo, quer-x'ela mais meninho.
  



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Nota geral:

Divertida sátira a uma dona viúva, ao que percebemos de um velho marido rico, a qual, seguindo o conhecido ditado "gato escaldado de água fria tem medo", recusava um bom partido, preferindo um marido ainda mais jovem e robusto.
A dona em questão parece ser, na verdade, a rica-dona Teresa Lopes de Ulhoa, cujo primeiro marido foi Fernão Pais de Capelo, cavaleiro que, segundo os Livros de Linhagens, adquiriu este apelido na sequência de um episódio ocorrido na batalha de Navas de Tolosa (1212). A ser assim, é muito possível que fosse já relativamente idoso na altura do seu casamento com D. Teresa, a qual por sua vez, por alturas da composição da cantiga, certamente também já não iria na sua primeira juventude. Note-se que estes dados parecem ser cabalmente confirmados pela expressão dona de capelo, que o trovador utiliza na estrofe final ao referir-se a Teresa Lopes, certamente uma jocosa alusão ao seu falecido marido. Acrescente-se que é possível, de resto, como muito recentemente sugeriu José António Souto Cabo1, que esse primeiro marido, Fernão Pais de Capelo se possa identificar com o trovador Fernão Pais de Tamalhancos, como referimos na biografia deste trovador.

Referências

1 Souto Cabo, José António (2011), "Fernando Pais de Tamalhancos, trovador e cavaleiro", Revista de Literatura Medieval, nº, 23, Alcalá de Henáres.
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Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão, refrão inicial
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1622, V 1155/1156
(C 1622)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1622

Cancioneiro da Vaticana - V 1155/1156


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas