Fernão Rodrigues Redondo

Rubrica:

Esta cantiga foi feita a Dom Pedro d'Aragom por um cavaleiro seu moordomo que feriu endoado, e foi seguida doutra cantiga.


Dom Pedro, est[e] cunhado d'el-rei
que chegou ora aqui d'Aragom,
com um [e]speto grande de leitom
e - pera que vo-lo perlongarei?
5       Deu por vassalo des i a senhor:
       faz sempre nojo, nom vistes maior.
  
Pera se lhi nom poder perceber,
já el tiinha prestes cabo si
 aquel espeto, que filhou log'i;
10e que compre de vos en mais dizer?
       Deu por vassalo des i a senhor:
       faz sempre nojo, nom vistes maior.
  
  Mui ledo send', u cantara seus lais,
a sa lidiça pouco lhi durou,
15e o espeto em sas mãos filhou;
e pera que o perlongarei mais?
       Deu por vassalo de si a senhor:
       faz sempre nojo, nom vistes maior.
  
E em tal que lhi nom podess'escapar
20nem lhi podesse em salvo fogir,
filhou o espeto, em som d'esgremir;
e que compre de vo-lo perlongar?
       Deu por vassalo des i a senhor
       faz sempre nojo, nom vistes maior.



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Nota geral:

Cantiga que Fernão Rodrigues Redondo dirige ao cunhado de D. Dinis, D. Pedro de Aragão, irmão da rainha D. Isabel. Por aquilo que nos diz a rubrica que a acompanha, a cantiga alude a uma cena em que D. Pedro teria ferido gratuitamente (endoado) um seu mordomo com um espeto de leitão que tinha à mão.
A alusão a esse episódio é feita em forma de equívoco com a cerimónia da investidura dos vassalos, que incluiria um toque de espada (neste caso substituída pelo espeto). Mas o equívoco inclui também a ideia (não expressa na rubrica) de que D. Pedro se teria enganado nas hierarquias, "fazendo seu vassalo" um cavaleiro de posição social mais elevada, o que não parece coordenar-se muito bem com o facto de a mesma rubrica nos dizer que o agredido teria sido um seu mordomo. Sendo assim, supõe Rodrigues Lapa que a cantiga aludiria a um qualquer pequeno acidente protagonizado por D. Pedro e de que teria sido vítima o próprio rei D. Dinis. De qualquer forma, a ambiguidade da rubrica, aliada ao nosso desconhecimento do contexto (que será certamente jocoso), impede-nos de interpretar cabalmente a composição, que terá sido composta por volta de 1297, ano em que D. Pedro se estabeleceu em Portugal.
É ainda difícil decidir se a frase final da rubrica, e foi seguida doutra cantiga, significa que foi completada com uma segunda composição (que não chegou até nós), ou se especifica o facto de ser esta uma cantiga de seguir (feita a partir de uma outra). Neste último caso, que parece mais provável, é possível que a cantiga seguida fosse uma composição de Rodrigo Anes de Vasconcelos (algo obscura, diga-se), cujo primeiro verso do refrão se assemelha bastante ao verso correspondente desta cantiga.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1614, V 1147

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1614

Cancioneiro da Vaticana - V 1147


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas