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  (linha 1)

Afonso Fernandes Cubel


De como mi ora com el-rei aveo      ←
quero-vo-l'eu, meus amigos, contar:      ←
el do seu haver rem nom me quer dar      ←
nem er quer que eu viva no alheo;      ←
5 e eu nom hei herdade de meu padre,      ←
e ũa pouca, que foi de mia madre,      ←
 filhou-mi-a e fez-mi ũa pobra no seo.      ←
  
 E noutra parte tolheu-mi as naturas,      ←
em que eu soía a guarecer;      ←
10e agora hei coitad'a viver      ←
e nom som poucas, par Deus, mias rancuras;      ←
come quem nom come, ca o nom tem,      ←
 se lho nom dá, por sa mesura, alguém:      ←
ai Dem', a ti dou eu estas mesuras!      ←
  
15Nom s'enfadou e tolheu-mi o testado      ←
de que me serviam por Sam Joam;      ←
 e nom [mi] dam del valia d'um pam      ←
  nem mercê vem sobr'ele, mal pecado;      ←
 e pois que esto tem por bem [e quer],      ←
20gast'o seu cõn'o da[r a quem quiser],      ←
e chorará quem mal dia foi [nado].      ←
  
E ora faça el-rei quanto poder,      ←
  e eu servi-l'-ei quando for mester,      ←
pero sõo mui [pouco] seu soldado.      ←



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Nota geral:

Esta curiosa cantiga, a única que nos chegou deste trovador, faz parte do reduzido número de composições que, nos cancioneiros, criticam diretamente figuras reais. Nela, Afonso Cubel queixa-se amargamente do seu rei, por este o ter espoliado da sua legítima herança, sem em troca lhe dar qualquer outro meio de subsistência.
Não sabemos exatamente de que rei se tratará, mas o contexto parece relacionar-se com o esforço régio de fixação de populações nas zonas conquistadas ou em zonas de conflito, através da fundação de vilas, como se percebe pela queixa que abre a composição (a criação de uma povoação no meio das suas terras). Afonso III ou D. Dinis poderão assim ser, eventualmente, os destinatários. Vicenç Beltran (20011), no entanto, sugere que o rei em causa será antes Afonso X, e que a cantiga se deverá integrar no ciclo que alude a um dos conflitos centrais do seu reinado, a rebelião dos principais ricos-homens o reino (os quais, de facto, e entre outros agravos, contestavam vivamente a política de repovoamento do monarca). A ser assim, esta queixa aparentemente pessoal seria, na verdade, um expediente utilizado pelo trovador para dar voz (e denunciar) algumas das queixas dos revoltosos. A escassez de dados biográficos relativos a Afonso Cubel constitui, no entanto, um obstáculo a uma contextualização segura desta sua única cantiga.
A terceira estrofe e a finda só vêm transcritas em B, e muito deturpadas, pelo que o final da cantiga levanta alguns problemas de leitura e interpretação.

Referências

1 Beltran, Vicenç (2001), “El Rey Sábio y los nobles rebeldes”, in Atas do III Encontro Internacional de Estudos Medievais da ABREM, Rio de Janeiro, Ed. Ágora da Ilha.
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Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1610, V 1143
(C 1610)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1610

Cancioneiro da Vaticana - V 1143


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas