Fernando Esquio


Disse um infante ante sa companha
que me daria besta na fronteira,
 e nom será já murzela nem veira,
nem branca, nem vermelha, nem castanha;
5pois amarela nem parda nom for,
 a pram será a Besta Ladrador
que lh'adurám do reino de Bretanha.
  
E tal besta como m'el há mandada
nom foi homem que lhe visse as semelhas;
10nem tem rosto, nem olhos, nem orelhas,
nem é gorda, nem magra, nem delgada,
nem é ferrada, nem é por ferrar,
nem foi homem que a visse enfrear,
nem come erva, nem palha, nem cevada.
  
15Atal besta mi há mandada este infante;
[e] bem vo-lo juro, amigo[s], sem falha,
nom sei eno mundo haver que a valha:
nom vai à saga, nem vai adeante,
e tem, vos juro par Nostro Senhor,
20mais al: que pois nós morrermos, nom for
nom............... e forom..........[-ante]
  
Tal rapaz que lh'há mester desta besta,
eu cuido bem que lho tenham achado:
 que, prol nem coita [............. ado],
25que a seu dono ...............[esta]
e nom ande triste nem ande ledo,
nem vaa deante, nem a derredo,
e nunca cômia, nem beva, nem vesta.



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Nota geral:

Cantiga dirigida a um grande senhor (um Infante não identificado) que tardava a entregar o cavalo prometido para a zona de guerra. O trovador faz uma descrição imaginária desse tão prometido animal, comparando-o, nomeadamente, à Besta Ladrador, animal fabuloso das novelas de Bretanha1 (e cuja caraterística principal era exatamente aparecer e desaparecer subitamente). A descrição detalhada do prometido cavalo, assentando exclusivamente na enumeração de paradoxos, de pares de propriedades que desafiam o princípio da não contradição (não é gorda nem é magra, por exemplo), é um original modo de indiciar a penúria ou a falta de palavra do Infante.
De resto, atendendo à cronologia provável de Fernando Esquio e também a referência que faz à fronteira de guerra, não é impossível que este Infante fosse D. Sancho (futuro Sancho IV de Castela), podendo neste caso inserir-se a cantiga no contexto do conflito sucessório que manteve com seu pai, Afonso X.
Acrescente-se que as duas últimas estrofes só vêm no Cancioneiro da Biblioteca Nacional e em muito mau estado, tornando a sua reconstituição quase impossível.

Referências

1 Pichel, Ricardo (2019), "O maldizer e o universo artúrico en Esquio", Olga, Revista de poesia galega en Madrid.
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Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1607, V 1140

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1607

Cancioneiro da Vaticana - V 1140


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas