Pedro Amigo de Sevilha


Nom sei no mundo outro homem tam coitado
com'hoj'eu vivo, de quantos eu sei;
e, meus amigos, por Deus, que farei
eu, sem conselho, desaconselhado?
5Ca mia senhor nom me quer fazer bem
senom por algo; eu nom lhi dou rem,
nem poss'haver que lhi dê, mal pecado.
  
E, meus amigos, mal dia foi nado,
pois esta dona sempre tant'amei,
10des que a vi, quanto vos eu direi:
quant'eu mais pud'- e nom hei dela grado;
e diz que sempre me terrá em vil
 atá que barate um maravedil,
e mais d'um soldo nom hei baratado.
  
15E vej'aqui outros eu, desemparado,
que ham seu bem, que sempr'eu desejei,
por senhos soldos, e gram pesar hei,
por quanto dizem que é mal mercado;
ca, se eu podesse mercar assi
20com esta dona, que eu por meu mal vi,
log'eu seria guarid'e cobrado
  
de quant'afã por ela hei levado.



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Nota geral:

Numa nova paródia ao amor cortês, este "escárnio de amor" põe em cena uma dona que não dá o bem (como sempre acontece nas cantigas de amor), mas, no caso, porque o vende: para o trovador, aliás, o preço seria alto - um maravedi; outros o teriam conseguido por apenas um soldo (e queixando-se de que ainda por cima tinham feito mau negócio).
Note-se que, até ao v. 6, a cantiga se desenvolve como uma perfeita cantiga de amor, só então mudando de registo (embora Pedro Amigo recorra a numerosos termos e expressões típicos do registo lírico ao longo de toda a composição, que termina, aliás, com uma finda que poderia figurar perfeitamente numa cantiga de amor).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas (rima c singular)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1594, V 1126

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1594

Cancioneiro da Vaticana - V 1126


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas