Nota geral: Pela ordem do manuscrito, esta é a primeira de uma série de cantigas nas quais Gil Peres Conde, entre o jocoso e o crítico, nos dá conta da sua má sorte em Castela, cantigas em geral relacionadas com as dificuldades em receber os pagamentos que lhe seriam devidos pelos seu serviço na hoste, e entre as quais algumas se dirigem ao próprio rei. Nesta composição, o trovador, dirigindo-se ao seu senhor, exige-lhe um fiador, nem que seja judeu, como garantia desse pagamento (e irá na cavalgada, se o senhor também for - o que é uma outra forma de crítica indireta). Não sabemos se este "senhor" seria o próprio rei, ou o rico-homem em cuja hoste se integraria o trovador. Na verdade, tradicionalmente, todo este ciclo tem sido entendido como dirigindo-se a Afonso X (que, de facto, deu azo a muitas queixas deste género, nomeadamente por parte dos nobres que se revoltaram entre 1272-1274). É possível, no entanto, que nas composições que aludem diretamente a um monarca, Gil Peres Conde se dirija, na verdade, ao seu sucessor, Sancho IV, cuja corte sabemos que também frequentou. De facto, se uma das cantigas do ciclo data claramente do reinado do Rei Sábio, deve notar-se que ela não é especialmente crítica para o soberano, criticando antes os cavaleiros que, sendo pagos, não combatem (ponto de vista que encontramos igualmente em composições do próprio Afonso X). Já uma outra cantiga deste ciclo, e na qual a crítica a uma figura real é manifesta, é indiscutivelmente dirigida ao seu herdeiro e sucessor, D. Sancho. Assim sendo, cremos que nesta composição, possivelmente datada do reinado do rei Sábio, o "senhor" visado não será o rei, mas antes um dos senhores que exatamente Afonso X acusava de cobardia e traição.
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