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Fernão Garcia Esgaravunha


 Nenguem-mim, que vistes mal doente      ←
de mao mal, ond'houver'a morrer,      ←
eu puj'a mão em el e caente      ←
o achei muit', e mandei-lhi fazer      ←
5mui boa cama, e adormeceu;      ←
 e espertou-s'e cobriu-s'e peeu      ←
e or[a] já mais guarido se sente.      ←
  
Achei-o eu jazer desacordado,      ←
que nom cuidei que podesse guarir;      ←
10e pois eu vi que era mal coitado,      ←
mandei-o bem caentar e cobrir;      ←
e des que s'el bem coberto sentiu,      ←
estornudou três peidos e guariu      ←
 já quanto mais, e é mais arriçado.      ←
  
15Achei-o eu mal doente, u jazia      ←
desacordado todo com o mal;      ←
e nom cuidava que guareceria;      ←
mais a mercêe de Deus quanto val!      ←
Que, u sa gente del desasperou,      ←
 20feriu três peidos e determinhou      ←
 e conhoceu, ca já nom conhocia.      ←
  
Deste mal nom cuidei que guarecesse,      ←
pero mandei-lhi fazer ũa rem:      ←
que aquel dia per rem nom comesse      ←
25e se deitasse e se cobrisse bem;      ←
e el deitou-se e cobriu-s'entom,      ←
e peeu bem e houve coraçom      ←
pois de bever, e dix'eu que bevesse.      ←



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Nota geral:

Cantiga de cariz escatológico dirigida a um estranho Nenguem-mim (se a leitura deste termo nos manuscritos está correta) - e que será talvez uma alcunha, como sugere Lapa - personagem que o trovador se gaba de ter curado de uma grave doença. Pelo que se depreende, talvez essa grave doença não fosse mais do que uma enorme bebedeira, que uma boa cama e o alívio dos gases intestinais teriam bastado para curar - a cura reconhecendo-se pelo desejo do "doente" de voltar a beber. É pelo menos essa a interpretação de Rodrigues Lapa1, e que parece plausível. A não ser que a cantiga fosse decididamente equívoca e D. Fernão Garcia aludisse a uma qualquer crise pessoal e passageira de impotência, entendimento que talvez seja igualmente possível.

Referências

1 Lapa, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1510
(C 1510)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1510


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas