Vasco Peres Pardal


 Senhor, Dom Ansur se vos querelou
por couces muitos que lhi for[om] dar;
 mais, por Deus, mandad'ora justiçar
por en daquel que os couces levou:
 5ca o foi ferir um home mui vil,
mais, por um couce, dem or'aqui mil
a Dom Ansur, pois gram torto tomou.
  
E, senhor, nunca Dom Ansur cuidou,
seendo vós na terra e no logar,
10que lh'os couces nom mandassem dobrar
os alcaides; mais, pois que vos achou,
por Deus, mandad'agora vós por en
por um couce que mil couces lhi dem,
pois Dom Ansur per justiça i minguou.
  
 15E Airas Veaz non'o seelou,
mais agora já qué-lo seelar;
e vós mandade-lh'os mil couces dar,
 ca bem os aqui el os outros dou;
e pois s'el veo querelar assi,
20taes mil couces lev'ora daqui
que diga pois: - Com meu dereito vou.



 ----- Aumentar letra

Nota geral:

Continuando a cantiga anterior, novo equívoco sobre D. Ansur, que, pelos vistos, se queixava de ter sido agredido e pedia justiça ao rei. Aparentemente, o trovador parece apoiar o seu pedido de que o rei mande castigar o agressor, aplicando-lhe a pena de levar mil vezes os pontapés que D. Ansur teria levado. De facto, toda a cantiga pode ser lida em sentido oposto: Vasco Peres acha insuficientes os coices que ele terá recebido e pede ao rei que lhe dê mil vezes mais. As duas leituras dependem muito do duplo sentido que assume o verbo "dar" (conceder como desforra/aplicar).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas (rima c singular)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1508

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1508


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas