Vasco Peres Pardal


Vedes agora que mala ventura
de Dom Fernando, que nom pod'haver
 físico que lh'ora possa tolher
 aqueste mal que há de caentura;
5pero dizem os físicos atal:
que o guarria mui bem deste mal
 quem lh'o corpo metess[e] a ventura.
  
E deste mal sempr[e] é mui coitado,
e nom guarrá já del, se nom houver
10home que lhi dê quanto lh'é mester;
 mais aquesto tem el mui desguisado:
 ca, pero muitos físicos há 'qui,
se lh'o corpo nom aventuram i,
nom guarrá já, ca jaz desacordado.
  
15E pesa-m'ende, par Santa Maria,
deste seu mal, ca mi dizem que nom
pode guarir, se maestre Simiom
o nom guarisse; mais vos en diria:
já lhi nom pode nulha rem prestar,
20se lh'o maestre nom aventurar
o corpo, ca x'há mui gram maloutia.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Sátira, em forma de equívoco médico, contra um homossexual. Trata-se, neste caso, de lhe curar a febre (a caentura, ou calor) e os físicos entram à baila com sugestões.
Se este é o sentido geral, a cantiga repousa, no entanto, sobre um jogo com as expressões ventura, aventurar o corpo, meter a ventura, cujo sentido não é muito claro para nós. Talvez se trate, num primeiro sentido literal, de uma referência técnica a qualquer tipo de tratamento, no caso, o de apanhar vento, ou ar fresco (que lhe tiraria o calor). De qualquer forma, o equívoco parece aludir sobretudo ao próprio corpo dos médicos que se encarregariam do doente (neste caso, talvez D. Fernando andasse assediando o Mestre Simiom referido na terceira estrofe).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1505
(C 1505)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1505


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas