| | | João Garcia de Guilhade |
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| | | Par Deus, Lourenço, mui desaguisadas |
| | | novas oí agor'aqui dizer: |
| | | mias tenções quiseram desfazer |
| | | e que ar fossem per ti amparadas. |
| 5 | | Joam Soares foi; e di-lh'assi: |
| | | que louv'eu donas, mais nunca per mi, |
| | | mentr'eu viver, seram amas loadas. |
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| | | E se eu fosse u forom escançadas |
| | | aquestas novas de que ti falei, |
| 10 | | Lourenço, gram verdade ti direi: |
| | | tôdalas novas foram acaladas; |
| | | mais mim e ti poss'eu bem defender, |
| | | ca nunca eu donas mandei tecer, |
| | | nem lhis trobei nunca polas maladas. |
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| 15 | | Cordas e cintas muitas hei eu dadas, |
| | | Lourenç', a donas e elas a mim; |
| | | mais pero nunca com donas teci, |
| | | nem trobei nunca por amas honradas; |
| | | mais [as] que me criarom, dar-lhis-ei |
| 20 | | sempr'em que vivam e vesti-las-ei, |
| | | e seram donas de mi sempr'amadas. |
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| | | Lourenço, di-lhe que sempre trobei |
| | | por bõas donas, e sempr'estranhei |
| | | os que trobavam por amas mamadas. |
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Nota geral: Esta cantiga integra-se na chamada "questão da ama", polémica que animou o círculo trovadoresco (muito provavelmente de Afonso X), e que foi provocada pela cantiga de amor que D. João Soares Coelho dirige a uma ama de leite, destinatária pouco habitual neste género de composições. Na sequência deste elogio da "ama", e para além das zombarias que lhe foram diretamente dirigidas, João Soares compôs também uma tenção com Lourenço, onde o acusava de não ser o verdadeiro autor de uma outra anterior tenção (não sabemos exatamente qual), mas sim o seu amo, João Garcia de Guilhade. Guilhade responde-lhe, pois, aqui, assumindo-se realmente como autor dessas tenções - o que é também uma forma de desautorizar e satirizar Lourenço. Esta cantiga tem, assim, um alvo duplo: no início, Lourenço, pela confirmação da jocosa acusação de João Soares Coelho; em seguida este último, pelos seus estranhos gostos em matéria de amor cortês. Note-se o curioso elogio final às suas próprias amas de leite.
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