João Garcia de Guilhade


 Par Deus, infançom, queredes perder
a terra, pois nom temedes el-rei!
Ca já britades seu degred', e sei
que lho faremos mui cedo saber:
 5ca vos mandarom a capa, de pram,
trager dous anos, e provar-vos-am
que vo-la virom três anos trager.
  
E provar-vos-á, das carnes, quem quer,
que duas carnes vos mandam comer,
10e nom queredes vós d'ũa cozer;
e no degredo nom há já mester;
nem já da capa nom hei a falar:
ca bem três anos a vimos andar
no vosso col'e de vossa molher.
  
15E fará el-rei corte este mês,
e manda[rá]m-vos, infançom, chamar;
e vós querredes a capa levar
e provarám-vos, pero que vos pês,
da vossa capa e vosso guarda-cós,
20em cas d'el-rei, vos provaremos nós,
que ham quatr'anos e passa[m] per três.



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Nota geral:

Sátira plena de ironia a um infanção pelintra. A cantiga parte de um dos vários decretos com os quais os reis da Península procuraram (em vão) limitar o luxo - as chamadas leis sumptuárias -, estabelecendo regras para a alimentação e os trajes. O infanção teria, pois, infringido o decreto real - no caso, no entanto, não por excesso, mas por defeito.
É difícil sabermos exatamente a que "decreto" se refere João de Guilhade nesta composição, mas é possível que o contexto seja a corte castelhana de Afonso X, já que este monarca tomou medidas legislativas semelhantes em várias ocasiões, nomeadamente logo no início do seu reinado, nas cortes de Sevilha de 12521.

Referências

1 González Jiménez, Manuel (1999), Alfonso X, Burgos, Editorial La Olmeda, 2ª Ed., p. 40.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1492, V 1103

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1492

Cancioneiro da Vaticana - V 1103


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas