Nota geral: Cantiga que retoma o habitual tema das competências na arte de trovar, dirigida ao trovador João Soares Coelho, e que parece ser a resposta a uma cantiga do mesmo João Soares, na qual este alude ao facto de Vuitorom ter sido nomeado, mais ou menos jocosamente, juiz nesta matéria, provavelmente pelo próprio rei, decerto Afonso X. Note-se, no entanto, que, nesta sua resposta a João Soares, Vuitorom alarga a questão a um âmbito mais vasto, já que as muito concretas referências geográficas que nela faz - distinguindo entre um aqui e um longe, cabo Santarém - constituem certamente alusões de caráter não só biográfico mas político, Santarém sendo um dos espaços centrais do governo de Afonso III, a cuja corte João Soares Coelho, após alguns anos em Castela, ao serviço do infante Afonso (Afonso X), regressa em 1248, nos finais da guerra civil portuguesa que levou o Bolonhês ao poder. De resto, e para além desta clara dimensão política, a composição remete-nos ainda para o ciclo de composições habitualmente designado por "a questão da ama", ciclo que teve como detonador uma cantiga de amor do mesmo João Soares, Atal vej´eu aqui ama chamada, que gerou polémica nos círculos trovadorescos, já que nela o trovador fazia o elogio de uma ama de leite, o que, não parecendo adequado às normas do amor cortês, originou uma troca de zombarias alargada (vide, por exemplo, o comentário imediato do mesmo Vuitorom a essa cantiga, Esta ama, cuj´é Joam Coelho, bem assim como a nova resposta de João Soares, Desmentido m´há´qui um trobador).
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