Airas Peres Vuitorom


Fernam Díaz é aqui, como vistes,
e anda em preito de se casar;
mais nom pod'ó casamento chegar
- d'home o sei eu, que sabe com[o] é;
5e por haver casament', a la fé,
d'home nunca vós tam gram coita vistes.
  
 E por end'anda vestid'e loução
e diz que morre por outra molher;
mais este casamento que el quer
10d'home o sei eu que lho nom daram;
e por este casamento [d]el, de pram,
d'home atal coita nunca viu cristão.
  
  Ca d'Estorga atá Sam Fagundo
don'há que há de Dom Fernando torto,
15ca por outro casamento anda morto
d'home o sei eu, que o sabe já;
e se este casament'el nom há
d'hom'atal coita nunca foi no mundo.



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Nota geral:

Novamente o universo da homossexualidade, numa maliciosa cantiga que joga habilmente com um equívoco de ordem sintática, a partir da expressão casamento/ d´home (mas tenha-se em atenção que a nossa pontuação segue o sentido "inocente").
Não tem sido fácil identificar este Fernão Dias, o adiantado ou meirinho de Afonso X, que é um dos alvos de eleição de vários trovadores do seu círculo, todos tomando como motivo dos seus alegados gostos sexuais. Damos, no entanto, em nota, algumas sugestões. Seja quem for a personagem, o certo é que tanto esta como as restantes cantigas que lhe são dirigidas se deveriam inserir num contexto político muito concreto, sendo a rebelião protagonizada pelos ricos-homens de Leão e Castela contra Afonso X, em 1272-1274, o cenário mais verosímil.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
Dobre: (vv. 3 e 5 de cada estrofe)
casamento
(vv. 4 e 6 de cada estrofe)
d'home
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1479, V 1090

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1479

Cancioneiro da Vaticana - V 1090


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas