Nota geral: Cantiga de cariz nitidamente político, que terá como contexto um dos episódios marcantes do reinado de Afonso X, a rebelião de um importante grupo de ricos-homens, capitaneados por D. Nuno de Lara e D. Lopo Dias de Haro, contra o rei. Refugiados na muçulmana Granada, de cujo rei se fizeram vassalos, entraram posteriormente (em 1273) em conversações com Afonso X e regressaram, juntamente com o próprio rei Granada, que se fez vassalo do monarca castelhano (que o armou cavaleiro), com a obrigação de lhe pagar um tributo anual de trezentos mil marevedis. Pero Gomes Barroso, de resto, foi exatamente um dos enviados de Afonso X a essas conversações com os ricos-homens rebeldes. O refrão da cantiga, com a sua dupla referência ao ouro e ao mouro, parece, pois, apontar claramente para este contexto. Em termos mais específicos, no entanto, a interpretação da composição é mais difícil, já que, na verdade, não é claro se o trovador está a falar em nome próprio, ou antes a atacar aqui (dando-lhe voz) um cavaleiro que se quereria apropriar indevidamente dos feitos alheios (a paz e o rico tributo). Ainda menos clara é a referência final a Rui Gomes de Telha (certamente o pai de D. Aldonça Gomes de Telha, amante de D. Dinis e mãe do seu bastardo D. Afonso Sanches), outro português ao serviço do rei castelhano, mas cujo percurso é assaz obscuro. Para complicar as coisas, o seu nome surge num verso incompleto (faltam-lhe duas sílabas) e de reconstrução bastante problemática. Seria exatamente Rui Gomes o cavaleiro visado na composição? De qualquer forma, como qualquer intervenção neste verso fecharia o sentido da cantiga, optámos por não o completar, dando, em nota, algumas sugestões.
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