Rui Pais de Ribela


Comendador, u m'eu quitei
de vós e vos encomendei
a mia molher, per quant'eu sei
que lhi vós fezestes d'amor,
5       tenhades vós, comendador,
       comendad'o Demo maior.
  
Ca muito a fostes servir,
nom vo-lo poss'eu gracir;
mais, poila vós fostes comprir
10de quant'ela houve sabor,
       tenhades vós, comendador,
       comendad'o Demo maior.
  
E dizer-vos quer'ũa rem:
ela por servida se tem
15de vós; e, pois que vos quer bem
como quer a mim ou melhor,
       tenhades vós, comendador,
       comendad'o Demo maior.



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Nota geral:

A tomarmos à letra esta cantiga e uma outra que a continua, Rui Pais de Ribela denunciaria aqui um comendador (certamente de uma Ordem militar) que, na sua ausência, teria tido um excesso de "zelo" para com a sua própria mulher. Esta leitura autobiográfica parece, no entanto, demasiado estranha para ser credível, dado até o tom ligeiro das duas composições. Embora as cantigas não venham acompanhadas de nenhuma rubrica explicativa, o mais plausível é, pois, entendermos que o trovador não fala em nome próprio, mas dá aqui voz a um outro, num processo satírico de maldizer aposto, de que há exemplos vários nos cancioneiros.
Note-se ainda o jogo que a cantiga faz com os termos comendador, comendar e encomendar.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1438, V 1048

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1438

Cancioneiro da Vaticana - V 1048


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas