| | | João de Gaia | | | | Rubrica: | | | | Rubrica anterior: Diz ũa cantiga de vilãao: "A pee d'ũa torre, baila corpo probo. Vedes o cós, ai cavaleiro". E Joam de [...] Rubrica posterior: Esta cantiga seguiu Joam de Gaia per aquela de cima de vilãaos, que diz a refrom: "Vedes lo cós, ai, cavaleiro". E feze-a a um vilãao que foi alfaiate do bispo Dom Domingos Jardo de Lixbõa e havia nome Vicente Domingues, e depois pose-lhi nome o bispo Joam Fernandes; e feze-o servir ante si de cozinha e talhar ant'el; e feze-o el-rei Dom Denis cavaleiro; e depois morou na freguesia de Sam Nicolao e chamarom-lhi Joam Fernandes de Sam Nicolao.
| | | | Vosso pai na rua | | | | ant'a porta sua: | | | | vede'lo cós, ai cavaleiro! | | | | | Ant'a sa pousada, | | 5 | | em saia 'pertada: | | | | vede'lo cós, ai cavaleiro! | | | | | Em meio da praça, | | | | em saia de baraça: | | | | vede'lo cós, ai cavaleiro! |
|
----- Aumentar letra ----- Diminuir letra
|
|
| Nota geral: Da extensa rubrica transcrita no final desta pequena cantiga retenhamos, antes de mais, que se trata de uma cantiga de seguir. Ou seja, João de Gaia utilizou (seguiu) aqui certamente a música e, como é referido nessa rubrica, o refrão de uma cantiga de vilão (citada de forma mais completa na rubrica que antecede a composição). A rubrica mais extensa explica-nos ainda o contexto em que o fez: tratava-se de ridicularizar um ex-vilão, alfaiate de profissão, feito cavaleiro por D. Dinis, a pedido do seu protetor, o bispo de Lisboa. Entenda-se assim toda a ironia da pequena cantiga, feita em "honra" do antigo alfaiate: como mandavam as regras deste tipo de cantiga de seguir, o refrão devia tomar outro sentido em contato com estrofes diferentes. É o que se passa exatamente aqui: as expressões em cós e cavaleiro, que na cantiga original aludiriam a uma qualquer cena de sedução feminina, passam a aludir, respetivamente, ao antigo ofício (alfaiate) e ao novo estatuto do visado (cavaleiro). Também o facto de João de Gaia seguir uma cantiga de vilão não é inocente. Acrescente-se que, se bem que objeto de um parágrafo na Arte de Trovar (cap. VIII), esta é, aliás, a única referência explícita a este tipo de cantigas nos cancioneiros, cantigas estas cujos contornos permanecem indefinidos, mas que, como o seu nome indica, teriam certamente um cariz popular.
|
|
Nota geral
Descrição
Cantiga de Escárnio e maldizer Cantiga de seguir Cobras singulares (Saber mais)
Fontes manuscritas
B 1433, V 1043 (C 1433)
Versões musicais
Originais
Desconhecidas
Contrafactum
Desconhecidas
Composição/Recriação moderna
Desconhecidas
|