João Soares Coelho


Martim Alvelo,
desse teu cabelo
te falarei já:
cata capelo
5que ponhas sobr'elo,
  ca mui mester ch'há;
ca o topete
pois mete
cãos mais de sete,
10e mais, u mais há,
 muitos che vejo
sobejo:
e que grand'entejo
tod'a molher há!
  
15E das trincheiras
e das trasmoleiras
ti quero dizer:
 vejo-chas veiras
e von'as carreiras,
20polas defender;
ca a velhece,
pois crece,
sol nom quer sandece,
al é de fazer:
25ca essa tinta
mal pinta;
e que val a enfinta
u nom há foder?
  
Messa os cãos
 30e filh'os soumãos,
e nom ch'há mester
panos louçãos;
abr'i deles mãos,
ca tod'a molher
35a tempo cata
quem s'ata
a esta barata
que t'ora disser:
d'encobrir anos
40com panos;
aquestes enganos
per rem nõn'os quer.
  



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Nota geral:

O visado nesta cantiga é o trovador Martim Alvelo, várias vezes ridicularizado nos Cancioneiros, mas cujas composições se perderam. Aqui João Soares Coelho traça-nos o retrato de um homem que procura disfarçar a idade pintando o pouco cabelo que lhe resta e vestindo-se luxuosamente, nem assim conseguindo enganar as senhoras que quer impressionar.
A cantiga tem uma estrutura métrica muito original.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

V 1025

Cancioneiro da Vaticana - V 1025


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas