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| | | | | | Vasco Gil, Pero Martins |
| | | | - Pero Martiins, ora por caridade, ← | | | | vós, que vos teedes por sabedor, ← | | | | dizede-mi quem é comendador ← | | | | eno Espital, ora da escassidade, ← | | 5 | | ou na fraqueza, ou quem no forniz, ← | | | | ou quem em quanto mal se faz e diz. ← | | | | Se o sabedes, dizede verdade. ← | | | | | - Pois, Dom Vaasc', um pouco m'ascoitade: ← | | | | os que mal fazem e dizem som mil: ← | | 10 | | eno forniz é[ste] Dom Roi Gil ← | | | | e Roi Martiins ena falsidade, ← | | | | e ena escasseza é o seu priol. ← | | | | Nom vos pod'hom'esto partir melhor; ← | | | | se mais quiserdes, por mais preguntade. ← | | | 15 | | - Pero Martiins, mui bem respondestes, ← | | | | pero sabia-m'eu esto per mim, ← | | | | ca todos três eram senhores i ← | | | | das comendas - comendadores estes! ← | | | | E partistes-mi-o tam bem, que m'é mal; ← | | 20 | | mais ar quer'ora de vós saber al: ← | | | | que mi digades de quen'o aprendestes. ← | | | | | - Vós, Dom Vaasc', ora me cometestes ← | | | | doutros preitos; des i, ar dig'assi: ← | | | | nom mi deu algo, pero lho pedi, ← | | 25 | | o priol; e fodi e vós fodestes ← | | | | com Roi Gil; e meus preitos talhei ← | | | | com Frei Rodrig'e mentiu-mi-os; e sei, ← | | | | per aquest', a sa fazenda daquestes. ← | | | | | - Pero Martiins, respondestes tam bem ← | | 30 | | em tod'esto, que fostes i com sem ← | | | | e trobador; e cuid'eu que leestes. ← | | | | | - [De] vós, Dom Vaasco, tod'esso m'é bem; ← | | | | hei sis'e sei trobar e leo bem; ← | | | | mais que tárdi que mi o vós entendestes! ← |
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| Nota geral: Tenção sobre a Ordem dos Hospitalários, que aqui sofre um violento ataque, feito sobretudo pelo segundo interlocutor, Pero Martins, o qual, respondendo à pergunta inicial de D. Vasco sobre quem era o campeão de vários vícios no interior da Ordem, lhe fornece, sem ambiguidades, os nomes do maior fornicador, do maior avaro e do maior mentiroso, justificando em seguida estas indicações com dados retirados da sua própria experiência. De forma geral, o contexto deste ataque parece relacionar-se ainda com a guerra civil portuguesa, e com o facto de os Hospitalários, depois de terem sido largamente beneficiados por D. Sancho II, se terem passado, de armas e bagagens, para o campo de Afonso III, mal o Papa promulgou a bula de deposição de seu irmão. Embora a tenção nos apareça, no único manuscrito que no-la transmite (V), sem indicação de autor e no meio de composições de João Soares Coelho, não nos fornecendo assim qualquer dado para a identificação imediata deste D. Vasco, deverá tratar-se efetivamente de Vasco Gil (trovador cujas restantes composições já nas anteriores secções das cantigas de amor e de amigo dos cancioneiros nos aparecem nas proximidades das de D. João Soares). Acrescente-se que Vasco Gil foi, de resto, um dos mais leais partidários do rei deposto, chegando a ser preso pelo Conde de Bolonha, e acabando por se refugiar em Castela, o que parece confirmar ser ele o autor desta composição. A ser assim, a tenção não pode deixar de relacionar-se com uma outra que o mesmo Vasco Gil manteve com Afonso X, e na qual o monarca faz uma jocosa alusão final a um cavaleiro da Ordem do Hospital, que parece ser o seu próprio interlocutor: a ser assim novamente, e face ao violento ataque à Ordem feito na presente tenção, teremos que pressupor que D. Vasco se teria, mais tarde, dela afastado. E, na verdade, é possível ter sido esse o caso, já que também Pero Martins, o seu adversário, surge efetivamente em documentos da época como comendador da Ordem do Hospital, o que parece indicar que ambos falam do seu interior, mas de uma forma crítica. Marco Piccat, que estudou minuciosamente a questão1, crê, pois, que a composição terá sido feita em Castela, exatamente no círculo de Afonso X, por volta dos anos 1248-52, sendo o seu pretexto a chegada recente de Pero Martins à corte castelhana, com notícias frescas do que se passava em Portugal,
Referências 1 Piccat, Marco (1995), Il canzionero di Don Vasco Gil, Bari, Adriática.
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Nota geral
Descrição
Tenção Mestria Cobras singulares (rima a dobla) Finda (2) (Saber mais)
Fontes manuscritas
V 1020
Versões musicais
Originais
Desconhecidas
Contrafactum
Desconhecidas
Composição/Recriação moderna
Desconhecidas
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