João Soares Coelho


Bom casament'é, pera Dom Gramilho,
 ena Porta do Ferr'ũa tendeira;
e direi-vos com'e de qual maneira:
pera ric'home, que nom pod'haver
5filho nem filha, podê-l'-á fazer
com aquela que faz cada mês filho.
  
E de mim vos dig', assi bem me venha:
se ric'home foss'e grand'alg'houvesse
[e parentes chegados nom tevesse],
10a quem leixar meu haver e mia herdade,
eu casaria, dig'a Deus verdade,
com aquela que cada mês emprenha.
  
E bem seria meu mal e meu dano,
 per boa fé, e mia meos ventura
15e meu pecado grav'e sem mesura,
pois que eu com atal molher casasse,
se ũa vez de mim nom emprenhasse,
pois emprenha doze vezes no ano.



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Nota geral:

João Soares Coelho aconselha um rico-homem, alegadamente impotente, a casar-se com uma mulher cuja categoria social não seria muito elevada (uma tendeira), mas cuja propensão para ter filhos era extraordinária - segundo o trovador, todos os meses engravidava. Seria assim muito azar se D. Gramilho não conseguisse ser pai.
A cantiga tem alguns pontos obscuros, nomeadamente o nome do rico-homem, de leitura difícil nos manuscritos. Lapa1 sugere ainda que talvez a noiva fosse de apelido Coelha. É uma hipótese que não podemos confirmar.

Referências

1 Lapa, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

V 1019

Cancioneiro da Vaticana - V 1019


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas