João Soares Coelho


Dom Estêvam, que Lhi nom gradecedes
qual doairo vos deu Nostro Senhor,
e como faz de vós haver sabor
os que vos vêem, que vós nom veedes?
5E al [L]hi devedes agradecer:
como vos faz antr'os bõos caer,
e antr'os maos, que vós bem caedes!
  
E u vos jogam ou u vós jogades,
mui bem caedes em qual destas quer;
10[e] em falardes com tod'a molher
bem caedes, e u quer que falades;
e ant'el-rei muito caedes bem:
sequer manjar nunca tam pouco tem
de que vós vossa parte nom hajades.
  
15E pois el-rei de vós é tam pagado
que vos seu bem e sa mercêe faz,
d'haverdes [bom] nome muito vos jaz
e nom seer home desensinado:
ca, pois per cort'havedes a guarir,
20nunca de vós devedes a partir
um home que vos traj'acompanhado.



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Nota geral:

Continua a zombaria em torno da cegueira e das "quedas" de D. Estêvão, agora dando à expressão "cair bem" (numa primeira leitura) um sentido moral: fazer-se apreciado. Como nas cantigas anteriores de João Soares Coelho e nas restantes deste ciclo que os trovadores e jograis afonsinos dedicam a esta personagem, também na última estrofe há uma alusão aos alegados gostos sexuais de D. Estêvão. Como noutras cantigas equívocas semelhantes, note-se que a pontuação deverá ser alterada numa segunda leitura.
Quanto à identidade deste D. Estêvão e ao contexto em que se insere o ciclo de cantigas que lhe são dirigidas, veja-se a explicação que fornecemos na Nota Geral a uma composição de Airas Peres de Vuitorom (bem como a nota antroponímica ao v. 1).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

V 1015

Cancioneiro da Vaticana - V 1015


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas