| | | João Soares Coelho |
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| | | Quem diz de Dom 'Stêvam que nom vê bem |
| | | dig'eu que mente, ca diz mui gram falha; |
| | | e [eu] mostrar-lh'-ei que nom disse rem |
| | | nem é recado que nulha rem valha; |
| 5 | | pero mostrado devia seer |
| | | ca nom pode, per nulha rem, veer |
| | | mal home que nom vêe nemigalha. |
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| | | E quem lho diz, sei que lhe nom diria |
| | | ca vêe mal, se migo falass'ante, |
| 10 | | ou se o visse andar fora da via, |
| | | como o eu vi, junt'a Amarante, |
| | | que nom sabia, sair d'um tojal; |
| | | por en vos digo que nom vêe mal |
| | | quem vêe de redo quant'é deante. |
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Nota geral: A sátira contra D. Estêvão parte agora de um equívoco sobre a sua deficiência visual. Tanto este tema, como o da composição antecedente ou da seguinte, bem como as alusões a práticas homossexuais que parecem depreender-se do final desta cantiga. fazem parte das habituais "acusações" contra esta personagem, a quem outros trovadores dedicam igualmente cantigas. Quanto à identidade deste D. Estêvão e ao contexto em que se insere todo o ciclo, veja-se a explicação que fornecemos na Nota Geral a uma composição de Airas Peres de Vuitorom (bem como a nota antroponímica ao v. 1). De referir ainda que esta cantiga de João Soares Coelho e a anterior (que no ms. aparecem com um único número) têm sido editadas como uma única composição, quando, na realidade, são composições distintas. Uma análise sumária da razom das peças comprova-o facilmente.
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