Antroponímia referida na cantiga:
  (ver na rubrica)

Gonçalo Anes do Vinhal

Rubrica:

     

Esta cantiga fez Dom Gonçal'Eanes do Vinhal a Dom Anrique em nome da rein[h]a Dona Joana, sa madrasta, porque diziam que era seu entendedor, quando lidou em Mouron com dom Rodrigo Afonso que tragia o poder del-rei.


Amigas, eu dizer      ←
que lidarom os de Mouron      ←
com aquestes d'el-rei e nom      ←
poss'end'a verdade saber:      ←
5       se é viv'o meu amigo,      ←
        que troux'a mia touca sigo.      ←
  
Se me mal nom estevesse      ←
ou nom fosse por enfinta      ←
daria esta mia cinta      ←
10a quem m'as novas dissesse:      ←
       se é viv'o meu amigo,      ←
       que troux'a mia touca sigo.      ←



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Nota geral:

Esta cantiga e uma outra, transcrita apenas pelo Cancioneiro da Vaticana, são de uma originalidade quase única nos Cancioneiros. Trata-se, como uma leitura rápida parece mostrar, de duas típicas cantigas de amigo, aparentemente semelhantes a muitas outras. Mas as rubricas que as acompanham explicam-nos que não é assim: de facto, Gonçalo Eanes do Vinhal alude aqui aos propalados amores da rainha-viúva D. Joana, madrasta de Afonso X, com o seu outro enteado, D. Henrique, irmão do rei. Estamos, pois, perante duas verdadeiras cantigas de escárnio, sob esta subtil e inesperada forma de cantigas de amigo.
Se bem que a alegada relação amorosa entre D. Henrique e a sua madrasta possa não passar de simples maledicência, todas as referências históricas feitas na cantiga são exatas. Na verdade, o monarca e o seu irmão entraram em litígio pouco depois da conquista de Sevilha, ainda no tempo de Fernando III, litígio que se prolongou durante vários anos. A cantiga refere um dos episódios finais da disputa, o recontro que opôs as tropas reais e as de D. Henrique (senhor de Morón), perto de Lebrija, e no qual D. Henrique foi derrotado, derrota que o levou ao exílio, mencionado na segunda cantiga. Os factos passaram-se em 1259, o que nos permite datar com exatidão as duas cantigas.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1390, V 999
(C 1390)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1390

Cancioneiro da Vaticana - V 999


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas