Pero Garcia Burgalês


Maria Negra vi eu, em outro dia,
ir rabialçada per ũa carreira;
e preguntei-a como ia senlheira,
e por aqueste nome que havia.
5E disse-m'ela'ntom: - Hei nom'assi
por aqueste sinal com que naci,
que trago negro come ũa caldeira.
  
[E] dixi-lh'eu, u me dela partia:
- Esse sinal é suso na moleira?
10E disse-m'ela daquesta maneira
com'eu a vós direi, e foi sa via:
- Aqueste sinal, se Deus mi perdom,
é negro bem come ũũ carvom
e cabelud'a redor da caldeira.
  
15A grandes vozes lhi dix'eu, u s'ia:
- Que vos direi a Dom Fernam de Meira
desse sinal? Ou é de pena veira
ou com'é feit'? [E] a Joam d'Ambia?
Tornou-s'ela e disse-m'outra vez:
20- Dizede-lhis ca chus negro é ca pez
e tem sedas de que faram peneira.
  
E dixi-lh'eu entom: - Dona Maria,
como vós sodes molher [mui] arteira,
assi soubestes dizer, com'arteira,
25esse sinal, que vos nom parecia.
E disse-m'ela: - Per este sinal,
nom'hei de Negr'e muito outro mal
hei per i, [ca hei] preço de peideira.



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Nota geral:

Pretenso diálogo entre a soldadeira Maria Negra e o trovador, que quer saber a origem do seu nome ou alcunha. A explicação (que é um equívoco malicioso) é dada por uma Maria Negra sempre em movimento. À mesma soldadeira dirige o trovador a cantiga seguinte.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas (rima c singular)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1382, V 990

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1382

Cancioneiro da Vaticana - V 990


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas