Martim Soares

Rubrica:

   

(Em B e V, antes da composição): Esta cantiga fez d’escarnho a ũa donzela e diz assi
(Só em V, depois da composição): Esta cantiga que se aqui acaba fez Martim Soárez a ũa sa irmãã, porque lhi fez ela querela d'um clérigo que a fodia ca a firia; e o clérigo nom quis a ela tornar, atá que ela foi por el a sa casa e o trouxe pera a sua.


 Ũa donzela jaz [preto d]aqui,
  que foi ogano um adeam servir
e nom lhi soube da terra sair;
 e a dona cavalgou e colheu [i]
 5Dom Caralhot'enas mãaos; e tem,
pois lo há preso, ca está mui bem,
e nom quer del as mã[a]os abrir.
  
E pois a dona Caralhote viu
 antre sas mã[a]os, houv'en gram sabor
10e diz: - Est'é o falso treedor
que m'ogano desonrou e feriu,
praz-me com el, pero trégoa lhi dei
 que o nom mate; mais trosquiá-l'-ei
come quem trosquia falso treedor.
  
15A boa dona, molher mui leal,
pois que Caralhote houv'em seu poder,
mui bem soube o que del[e] fazer:
 e meteu-o log'em um cárcel atal,
 u muitos presos jouverom assaz;
 20e nunca d'i, tam fort'e preso jaz,
 [tem] como saia, meos de morrer.



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Nota geral:

Para melhor compreendermos a cantiga é necessário entender a rubrica que a acompanha (e que só vem completa em V). Diz-nos ela que Martim Soares a fez a uma sua irmã que lhe tinha ido fazer queixa de que um seu amante clérigo lhe batia. E por causa desta queixa, o clérigo não quis voltar para ela; a rapariga foi então buscar o clérigo, levando-o para a sua própria casa. Se este é o contexto específico, o que Martim Soares critica aqui parece ser sobretudo a falta de vergonha (e de caráter) da donzela, cujos motivos, aliás, seriam mais interesseiros que amorosos. Não deixa, no entanto, de ser curiosa esta denúncia, cheia de alusões eróticas, de um familiar próximo (mesmo entendendo que a donzela poderia eventualmente ser uma irmã de leite, ou uma prima direita, uma co-irmã).
Note-se ainda que a cantiga se desenvolve a partir de uma referência paródica a um episódio do ciclo dos cavaleiros da Távola Redonda (sendo D. Caralhote a deturpação paródica de D. Lancelote).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1369, V 977

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1369

Cancioneiro da Vaticana - V 977


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas