Martim Soares


Quand'Albardam fogia d'aalém,
Orrac'Airas o ascondeu mui bem;
e el na arca fez-lhi atal rem
       per que nunca i outr'asconderá.
5       Per quant'i fez Albardam, nunca já
       Orrac'Airas i outr'asconderá,
  
polo guarir – "Muito fostes de mal
sem". E chamou sempre: "Nom moir'Abal-
dam". E el demais lhi fez [n]a arca tal,
10       per que nunca i outr'asconderá.
       Per quant'i fez Albardam, nunca já
       Orrac'Airas i outr'asconderá.



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Nota geral:

Continuação da cantiga anterior, numa nova cena com um Albardam fugitivo (provavelmente de uma qualquer refrega), refugiado na arca de uma tal Urraca Airas, à qual deixa um "presente", muito adequado ao medo que sentiria.
Se este é o sentido geral, a segunda estrofe da cantiga é, no entanto, de difícil entendimento, em grande parte porque a sua ligação à primeira não é evidente. Talvez falte uma (ou mais) estrofes intercalares à cantiga. De qualquer forma, a leitura que se apresenta entende que Martim Soares faz aqui um outro equívoco que o nome Albardam possibilita: uma vez ligeiramente alterado ele resulta na expressão a baldam (que é a lição dos mss. e a rima correta para o v. 8). Poderemos, pois, interpretar assim esta segunda estrofe: por um lado a dona da arca está preocupada com o estado do fugitivo e vai-o chamando com medo que ele morra (talvez asfixiado), dizendo com os seus botões "não morra em balde, em vão"; por outro lado Martim Soares estará a chamar-lhe "baldão" (o que se balda - alusão à fuga que é o tema da cantiga).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1361, V 969

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1361

Cancioneiro da Vaticana - V 969


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas