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| | | Martim Soares |
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| | | Estoutro cantar fez de maldizer a um cavaleiro que cuidava que trobava mui bem e que fazia mui bõos sões e nom era assi.
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| | | Cavaleiro, com vossos cantares ← |
| | | mal avil[t]astes os trobadores; ← |
| | | e pois assi per vós som vençudos, ← |
| | | busquem per al servir sas senhores; ← |
| 5 | | ca vos vej'eu mais das gentes gaar ← |
| | | de vosso bando, por vosso trobar, ← |
| | | ca nom eles, que som trobadores. ← |
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| | | Os aldeiãos e os concelhos ← |
| | | tôdolos havedes por pagados; ← |
| 10 | | também se chamam por vossos quites, ← |
| | | como se fossem vossos comprados, ← |
| | | por estes cantares que fazedes d'amor, ← |
| | | em que lhis acham os filhos sabor ← |
| | | e os mancebos que têm soldados. ← |
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| 15 | | Benquisto sodes dos alfaiates, ← |
| | | dos peliteiros e dos medores; ← |
| | | do vosso bando som os trompeiros ← |
| | | e os jograres dos atambores, ← |
| | | porque lhis cabe nas trombas vosso som; ← |
| 20 | | pera atambores ar dizem que nom ← |
| | | acham no mund'outros sões melhores. ← |
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| | | Os trobadores e as molheres ← |
| | | de vossos cantares som nojados ← |
| | | a ũa, por que eu pouco daria, ← |
| 25 | | pois mi dos outros fossem loados; ← |
| | | ca eles nom sabem que xi nem fazer: ← |
| | | querem bom som e bõo de dizer ← |
| | | e os cantares fremosos e rimados. ← |
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| | | E tod'aquesto é mao de fazer ← |
| 30 | | a quen'os sol fazer desiguados. ← |
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Nota geral: Sátira contra os maus cantares de um cavaleiro não identificado, que é também um interessante documento sobre a escola trovadoresca e os seus critérios de qualidade. De facto, Martim Soares não só diz mal dos cantares do cavaleiro, como os distingue claramente dos cantares dos trovadores, pelo público bem diferente a quem seriam dirigidos e junto do qual teriam grande sucesso: os vilãos e as suas famílias. Na ausência de dados mais concretos sobre este cavaleiro e os seus cantares, poderemos interrogar-nos: estará Martim Soares simplesmente a desenvolver, desta forma mais específica, o tema tradicional dos "maus cantares" de um qualquer colega trovador? (Carolina Michaelis, por exemplo, sugere1 que se poderia tratar de Sueiro Eanes, o cavaleiro repetidamente satirizado por esta geração de trovadores, e do qual nenhuma cantiga nos chegou). Ou estará antes a referir-se (e a condenar) um tipo particular de cantigas? Tratar-se-ia, neste caso, das chamadas "cantigas de vilãos", género a que a Arte de Trovar alude, mas que temos hoje dificuldade em definir? Seja como for, esta composição indica-nos que, tal como nos nossos dias, haveria já uma distinção entre o chamado grande público e o público cultivado, a quem os trovadores prioritariamente se dirigiam. Do repertório dos cantores de "grande público", no entanto, dificilmente poderemos ter hoje uma qualquer ideia. Note-se, por fim, que, formalmente, a cantiga apresenta características que parecem "mimar" ironicamente os maus cantares do cavaleiro visado, como duas palavras perdudas (versos 1 e 3 das estrofes, que não rimam) e uma espécie de falso dobre no final dos versos 2 e 7 de cada estrofe (trobadores - o único correto -, pagados /soldados, medores/ melhores)
Referências 1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904), p. 322.
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