Cantiga referida em nota


Lopo Lias

Rubrica:

  

Dom Lopo Lias trobou a uns cavaleiros de Lemos, e eram quatro irmãos e andavam sempre mal guisados; e por en trobou-lhis estas cantigas


Da esteira vermelha cantarei
 e das mangas do ascari farei
[..................................]
       e da sela que lh'eu vi, rengelhosa,
5       que já lh'ogano rengeu ant'el-rei
         ao zevrom, e pois ante sa esposa.
  
Da esteira cantarei, des aqui,
e das mangas grossas do ascari,
e o brial enmentar-vo-l'-ei i
10       e da sela que lh'eu vi, rengelhosa,
       que já lh'ogano rengeu ant'el-rei
       ao zevrom, e pois ante sa esposa.



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Nota geral:

Como nos informa a rubrica que acompanha a composição, esta é a primeira de uma série de cantigas (doze) que D. Lopo Lias dirigiu a estes quatro irmãos infanções, no que parece ser uma jocosa perseguição poética. A troça ao infanção pelintra e avaro ganha, pois, neste ciclo de D. Lopo Lias, uma dimensão original e inusitada. De facto, de todos os ciclos (ou seja, cantigas dirigidas à mesma pessoa e tema) que encontramos no cancioneiro satírico este é, de longe, o mais extenso e o mais organizado.
Apresentando-se como uma abertura jocosamente épica, esta primeira cantiga do ciclo expõe os temas que o trovador irá desenvolver nas restantes: o vestuário e adereços dos infanções, um manto fino que um deles teria dado à mulher no Natal e sobretudo as selas decrépitas que usariam.
Sendo certo que o ciclo parece ser, à primeira vista, apenas jocoso, não seria impossível que, como muitas outras composições deste tipo, ele se inserisse num contexto político preciso. Assim, Vicenç Beltran, num estudo recente (20091), sugere que esse contexto seria o da complicada sucessão de Afonso VIII de Castela, processo que levou ao confronto dos Lara (os irmãos Álvaro, Fernando e Gonçalo de Lara, este último exatamente tenente de Lemos) com a rainha Berengária (mãe do futuro Fernando III) e os seus apoiantes, datando, pois, as cantigas de 1217. A ser assim, estes cavaleiros aqui satirizados (um dos quais é identificado numa cantiga como Airas Moniz) poderiam ser vassalos dos Lara, possivelmente de D. Fernando, senhor da praça forte de Orzelhon (igualmente referida em várias cantigas), o último dos irmãos Lara a reconciliar-se com o partido real.
Cremos, no entanto, que a referência a Benavente, feita na segunda cantiga do ciclo, poderá apontar para um outro contexto bem menos remoto. De facto, foi em Benavente, localidade leonesa próxima de Zamora, que, a 11 de Dezembro de 1230, foi assinado o importante tratado pelo qual as infantas Sancha e Dulce, filhas de Afonso IX de Leão, renunciam ao seus direitos sobre a coroa deste reino a favor do seu meio-irmão Fernando III, na época já rei de Castela, desta forma se concretizando a unificação dos dois reinos (que será definitiva). Acrescente-se que, a esta referência toponímica feita no ciclo, se poderão juntar, aliás, as várias referências temporais ao período do Natal, que não serão talvez fortuitas. Num estudo muito recente, José António Souto Cabo2 retoma o assunto, apontando exatamente para o mesmo contexto.

Referências

1 Beltran, Vicenç (2009), “Lopo Liáns, em cas da Ifante”, in Medievalismo en Extremadura - Estudios sobre Literatura y Cultura Hispánicas de la Edad Media, Cáceres, Universidad de Extremadura.
      Aceder à página Web


2 Souto Cabo, José António (2016), "En cas da Ifante. Figuras femininas no patrocínio da lírica galego-portuguesa", in Estudos en homenaxe a Mercedes Brea, Santiago de Compostela, Universidade de Santiago de Compostela.
      Aceder à página Web




Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1338, V 945
(C 1338)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1338

Cancioneiro da Vaticana - V 945


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas