Toponímia referida na cantiga:
  (linha 2)

João Fernandes de Ardeleiro

Rubrica:

Esta cantiga foi feita a um comendador que houvera sas palavras com este escudeiro que lhi esta cantiga fez, por que o moveo a fazer del queixume a el-Rei, e fez-lhi perder a terra que del tiinha e havia nome Pavia.


O que seja no pavio      ←
que me fez perder Pavia,      ←
de que m'eu nada nom fio,      ←
 al m'er fez, com sa perfia:      ←
5de noite, per mui gram frio,      ←
que tangess'em péla fria;      ←
mais ainda m'end'eu rio,      ←
como s'end'el nunca ria.      ←
  
Nẽũas graças nom rendo      ←
10a quem lhi deu tam gram renda,      ←
per que m'eu del nom defendo      ←
nem acho quem me defenda;      ←
e pois que eu nom enmendo      ←
nem me faz outr'a e[n]menda,      ←
15ao Demo [o] encomendo      ←
que o haja em sa comenda.      ←
  
Coida-me lançar a mato;      ←
mais o que me del m'ora mata:      ←
tem que no meu, de [barato],      ←
20[ora] jaz i gram barata;      ←
[se mia fa]zenda desato,      ←
por quanto [sei, ma des]ata;      ←
mais o de que m'eu [ora cato],      ←
d'el-rei, querer-mi nom cata.      ←
  
25Que mi há-de poer no pao,      ←
 esto diz que viu na paa;      ←
e por en quanto tem dá-o,      ←
e a mia lavoira dá-a;      ←
mais pois eu nom acho vao      ←
30a meu feito, sempre vá      ←
sa fazenda em ponto mao      ←
e el muito em hora má.      ←



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Cantiga de apurado virtuosismo linguístico, baseada no artifício rimático chamado "macho e fêmea" (variações sobre o masculino e feminino do mesmo termo), o que a torna, aliás, um pouco obscura em alguns momentos. O facto de a terceira estrofe estar em muito mau estado nos manuscritos não facilita, de resto, as coisas. Seja como for, o contexto no qual foi composta a composição é-nos explicado pela rubrica que a acompanha: depois de uma discussão com um "comendador" (muito certamente um membro de um ordem militar), que dele se queixou ao rei, o trovador terá sido privado dos rendimentos da localidade de Pavia, que eram seus.
Embora seja difícil apurarmos concretamente de que rei se tratará, a cantiga parece inserir-se no contexto do repovamento das zonas de conquista relativamente recente ou de fronteira (Pavia situa-se no Alentejo), contexto no qual os monarcas ibéricos (Afonso X ou D. Dinis, por exemplo), fundando povoações em zonas escolhidas, ou entregando-as a Ordens militares por razões de defesa (como aconteceu exatamente no Alentejo), entraram muitas vezes em conflito aberto com a nobreza, que reivindicava a posse dessas terras. Dado Pavia ter sido uma das localidades fundadas por D. Dinis1, é possível que seja ele o rei referido (como parece confirmar, de resto, a cantiga de amor do trovador, que abre com uma referência explícita à sua pouca sorte em Portugal)

Referências

1 Calado, Adelino de Almeida (Ed.) (1998), Crónica de Portugal de 1419, Aveiro, Universidade de Aveiro, 164.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1327, V 933
(C 1327)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1327

Cancioneiro da Vaticana - V 933


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas