Estêvão da Guarda

Rubrica:

Esta cantiga foi feita a um vilão rico que havia nome Roi Fáfez e feze-o el-rei Dom Afonso, filho del-rei Dom Denis, cavaleiro, a rogo de Miguel Vivas, eleito de Viseu, seu privado, porque casou com ũa sa sobrinha; e era calvo; e el empero fez um capeirom grande de marvi com pena veira e com alfreses, aberto per deante, e anchava-se pelas costas e pelos ombros todo arredor; e levava-o em cima da calva pera lhe parecer a pena veira.


O caparom de marvi
que vos a testa bem cobre
com pena veira tam nobre,
alfaiat'ou peliteiro,
5dized'ora, cavaleiro,
       cal vo-l'apostou assi?
  
Tal caparom vos convém
com tal pena que tragaes;
mais i, dos dous mesteiraes,
10me dized'o que vos digo,
cavaleiro, meu amigo:
       cal vo-l'apostou tam bem?
  
Do que é mais sabedor
de caperom empenado
15me dad'agora recado,
e nom seja encoberto
de como vós sodes certo:
       cal vo-l'apostou melhor?



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Nota geral:

A extensa rubrica que acompanha a cantiga explica o contexto que a viu nascer: um vilão feito recentemente cavaleiro. A sátira congrega múltiplos aspetos, mas põe o acento nos seus trajes, luxuosos mas ridículos (uma grande capa com capuz de peles e enfeites), com que procura encobrir a calvície. Para além do seu ritmo muito vivo, a cantiga joga com um espirituoso equívoco, no seu refrão, com a palavra calvo.
Indiretamente, a cantiga é também uma farpa ao bispo de Viseu, D. Miguel Vivas (aludido na rubrica como protetor do novel cavaleiro), alvo de repetidas críticas por parte desta última geração de trovadores, na sua qualidade de privado de D. Afonso IV.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1322, V 927

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1322

Cancioneiro da Vaticana - V 927


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas