Estêvão da Guarda


 Bispo, senhor, eu dou a Deus bom grado
porque vos vej'em privança entrar
del-rei, a que praz d'haverdes logar
no seu conselho mais doutro prelado;
5e porque eu do vosso talam sei
qual prol da vossa privança terrei
rogo eu a Deus que sejades privado
  
  do [pre]bendo e de quant'al havedes:
fazede sempre quant'a 'l-rei prouguer,
10pois que vos el por privad'assi quer;
e pois que vós altos feitos sabedes
e quant'em sis'e em conselho jaz,
 varom, senhor, pois desto al rei praz,
fio per Deus que privado seredes
  
15per este Papa, quem duvidaria
que nom tiredes gram prol e gram bem
quand'el souber que, pelo vosso sem,
el-rei de vós mais doutro varom fia;
e pois vos el-rei aqueste logar dá,
20Bispo, senhor, u outra rem nom há,
vós seredes privado todavia
  
deste vosso benefício,
com ofício,
quem duvidará
25que vo-l'esalcem em outra contia?



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Cantiga satírica contra D. Miguel Vivas, bispo de Viseu e grande privado de Afonso IV, repetidamente satirizado por esta última geração de trovadores. Aparentemente, e lendo cada estrofe isoladamente, Estêvão da Guarda parece aqui felicitá-lo pela sua nomeação para o cargo. De facto, a cantiga joga com os dois sentidos da palavra privado (substantivo e particípio passado): se lermos as estrofes encadeadas até à finda, é o segundo sentido (privado de) que sobressai. Como acontece com outros equívocos deste género, que funcionariam sobretudo no registo oral, a pontuação proposta é meramente indicativa das pausas possíveis. A cantiga deve ter sido composta entre os anos 1330-1335, datas da nomeação e da morte do bispo de Viseu.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
Ateúda atá finda
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1310, V 915

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1310

Cancioneiro da Vaticana - V 915


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas