Pesquisa no glossário → (linha 13)
|
| |
| | | Estêvão da Guarda |
| | | Rubrica: |
 | | | Esta cantiga foi feita a um doutor que meteu por seu mes[s]egeiro pera juntar seu casamento um home que era leigo e casado e fora ante frade pregador; e o que se sal da ordem chamam-lhe apóstata. Esta cantiga é a de cima.
|
 | | | Pois teu preit'anda juntando ← |
 | | | aquel que é do teu bando, ← |
| | | di-me, doutor, como ou quando ← |
 | | | lhe cuidas fazer enmenda ← |
| 5 | | por quant'and'el trabalhando ← |
 | | | com'aposta ta fazenda. ← |
|
 | | | Pois com muitos há baralha ← |
 | | | por te juntar prol sem falha, ← |
| | | di, doutor, si Deus ti valha, ← |
 | 10 | | se lhe cuidas dar merenda ← |
| | | por quant'el por ti trabalha ← |
| | | como apostat'a fazenda. ← |
|
 | | | Pois anda tam aficado ← |
| | | por teu preito haver juntado, ← |
 | 15 | | di, doutor, cabo casado ← |
 | | | que prol tem i ou quejenda ← |
| | | o que toma tal cuidado ← |
| | | com'há posta ta fazenda. ← |
|
----- Aumentar letra ----- Diminuir letra
|
|
|
Nota geral: Mais uma cantiga cuja interpretação requer o cabal entendimento do equívoco em que assenta. A rubrica que a acompanha indica as circunstâncias que lhe deram origem: um doutor que incumbe um ex-frade de lhe tratar do casamento. E sublinha muito claramente a palavra-chave, apóstata, donde nasce o jogo dos equívocos. De facto, o que se insinua é que o interesse do procurador pelo negócio do casamento do doutor seria, prioritariamente, o seu interesse pela "fazenda" do dito, na qual se incluiria, muito concretamente, a noiva. O equívoco assenta, pois, nas várias leituras possíveis do refrão: como aposta ta fazenda (do verbo "apostar", pôr em boa forma: fazenda aposta = fazenda bem tratada), com´apóstat´, a fazenda (apóstata) e talvez mesmo como há posta ta fazenda. Dado não podermos saber a forma como a cantiga era cantada (as pausas, nomeadamente), optamos por fazer variar o refrão, deixando ao leitor a escolha das várias leituras orais possíveis.
|