Martim Padrozelos


Deus! E que cuidei a fazer,
quando m'eu da terra quitei
 u mia senhor vi? Baratei
mal porque o fui cometer;
 5ca sei que nom posso guarir
per nulha rem, se a nom vir.
Deus! E que cuidei a fazer?
  
Sandec', e devia perder,
amigos, porquanto provei
 10de m'end'alongar e direi-
vos mais: non'o posso sofrer;
e cuido sempre tornar i;
 e fiz, porquanto m'en parti,
sandec', e devia perder
  
15o corpo, ca nom outr'haver;
tod'aquesto eu mi o busquei
mui bem e lazerá-lo-ei;
ca sei ca nom posso viver
polo que fiz e assi é:
20que perderei, per bõa fé,
o corpo, ca nom outr'haver.
  
Quem me poderia valer,
senom Deus? A que rogarei
que me guise d'ir; e irei
25ced'u a vi, pola veer,
 ca nom sei al tam muit'amar;
e se m'El esto nom guisar,
quem me poderia valer?



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

O trovador arrepende-se de ter partido da terra da sua senhora, pois não pode viver sem a ver. Fez uma loucura e só por isso deveria morrer (= perder o corpo). Na estrofe final, pede a Deus que o ajude a regressar.
Mas a originalidade da cantiga reside sobretudo na sua construção artisticamente elaborada, com dobre de verso completo, ou seja, no facto de cada estrofe começar e terminar com o mesmo verso (note-se ainda que, se lermos os versos do dobre em sequência, o conjunto faz sentido e resume a ideia central da composição).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas (rima c singular)
Dobre: (vv. 1 e 7 de cada estrofe)
Deus! E que cuidei a fazer (I), Sandec'e devia perder (II), o corpo, ca nom outr'haver (III), quem me poderia valer (IV)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1247, V 852

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1247

Cancioneiro da Vaticana - V 852


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas