João Baveca


Amigo, sei que há mui gram sazom
que trobastes sempre d'amor por mi,
 e ora vejo que vos travam i;
mais nunca Deus haja parte comigo
 5se vos eu des aqui nom dou razom
       per que façades cantigas d'amigo.
  
E pois vos eles têm por melhor
de vos enfengir de quem vos nom fez
bem, pois naceu, nunca nẽũa vez,
10e por en des aqui vos [jur'e] digo
que eu vos quero dar razom d'amor
       per que façades cantigas d'amigo.
  
 E sabe Deus que desto nulha rem
vos nom cuidava eu ora fazer,
15mais, pois vos cuidam o trobar tolher,
ora verei o poder que ham sigo;
 ca de tal guisa vos farei eu bem
       per que façades cantigas d'amigo.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Curiosa cantiga de amigo, cheia de alusões à arte de trovar e à arte do próprio João Baveca, na qual a donzela diz ao seu amigo que, já que o criticam por lhe fazer sempre cantigas de amor (onde a louva sem que ela lhe tenha dado motivos para isso), agora vai dar-lhe uma "razão" para ele, desafiando os críticos, passar a fazer cantigas de amigo. Na ambiguidade do termo "razão (d´amor)" reside parte da inteligência poética desta composição, uma vez que, para além do seu sentido comum (vou dar-vos motivos), o termo tem ainda um sentido preciso na Arte Poética trovadoresca, designando o modo como um trovador aborda um tema geral (que é o amor, nestes dois géneros de cantigas, como João Baveca nota no jogo com a dualidade razão d´amor/ cantigas de amigo). E assim, as palavras da donzela anunciando que irá dar uma "razão" ao seu amigo, são a própria "razão" desta cantiga.
Acrescente-se que, a acreditarmos no que a donzela diz, esta cantiga poderia talvez ser a primeira cantiga de amigo que João Baveca compôs. De resto, e no que diz respeito às alusões aos seus "críticos", não sabemos se se trata de uma referência geral ou se ela alude a cantigas concretas. Neste último caso, talvez a tenção entre Pero Garcia de Ambroa e o próprio João Baveca pudesse ser o motivo próximo.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1225, V 830

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1225

Cancioneiro da Vaticana - V 830


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas