| | | Pedro Amigo de Sevilha |
| | | | - Dizede, madre, por que me metestes | | | | em tal prisom, e por que mi tolhestes | | | | que nom possa meu amigo veer? | | | | - Porque, filha, des que o vós conhocestes, | | 5 | | nunca punhou erg'em mi vos tolher. | | | | | E sei, filha, que vos trag'enganada | | | | com seus cantares, que nom valem nada, | | | | que lhi podia quem quer desfazer. | | | | - Nom dizem, madr', esso cada pousada | | 10 | | os que trobar sabem bem entender. | | | | | Sacade-me, madre, destas paredes | | | | e verei meu amig', e ve[e]redes | | | | que logo me met'em vosso poder. | | | | - ............................. | | 15 | | nem m'ar venhades tal preito mover. | | | | | Ca sei eu bem qual preito vos el trage, | | | | e sodes vós, filha, de tal linhage | | | | que devia vosso servo seer. | | | | - Coidades vós, madre, que é tam sage | | 20 | | que podess'el conmig'esso põer? | | | | | Sacade-me, madre, destas prijões, | | | | ca nom havedes de que vos temer. | | | | | - Filha, bem sei eu vossos corações, | | | | ca nom quer'en gram pesar atender. |
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| Nota geral: Neste vivo diálogo entre mãe e filha, a moça começa por perguntar por que razão a mãe a mantém presa e a impede de ver o seu amigo. Na resposta, a mãe começa por alegar que, desde que ele a conheceu, nada mais fez do que tentar separá-las. Mas acrescenta um outro motivo: na verdade, ele traz a moça enganada com os seus cantares que, acrescenta, não valem nada e qualquer um os poderia desfazer (mostrar como são maus). A moça vem então em auxílio do brio artístico do seu amigo, respondendo que não é isso que dizem, em todos os lugares onde ele passa, os que conhecem a arte de trovar. E renova o apelo para que a sua mãe a liberte daquelas quatro paredes e a deixe ver o seu amigo, prometendo-lhe que passará a ser obediente. Mas a mãe não quer ouvir falar nisso, até porque, sabendo muito bem o que ele quer, tem ainda outra objeção de monta: a disparidade social entre os dois - o que faz notar, dizendo que, pela linhagem a que ela pertence, ele não deveria ser amigo, mas servo dela. A moça pensa que com ele isso não seria possível, mas novamente pede à mãe para a libertar, pois nada tem a recear. Mas a mãe responde que, conhecendo-os aos dois, mais vale prevenir do que remediar. Note-se a curiosa defesa que o trovador faz, por interposta voz feminina, do seu talento na arte de trovar, e que é também uma resposta a algumas jocosas críticas que lhe são feitas por colegas de ofício (como é o caso desta cantiga de Lourenço).
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Nota geral
Descrição
Cantiga de Amigo Mestria, dialogada Cobras singulares (rima b uníssona) Finda (2) (Saber mais)
Fontes manuscritas
B 1218, V 823
Versões musicais
Originais
Desconhecidas
Contrafactum
Desconhecidas
Composição/Recriação moderna
Desconhecidas
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