Pero Meogo


Fostes, filha, eno bailar
 e rompestes i o brial;
        poilo cervo i vem,
       esta fonte seguide-a bem,
5       poilo cervo i vem.
  
Fostes, filha, eno loir
e rompestes i o vestir;
       poilo cervo i vem,
       esta fonte seguide-a bem,
10       poilo cervo i vem.
  
E rompestes i o brial
que fezestes ao meu pesar;
       poilo cervo i vem,
       esta fonte seguide-a bem,
15       poilo cervo i vem.
  
E rompestes i o vestir
que fezestes a pesar de mim;
       poilo cervo i vem,
       esta fonte seguide-a bem,
20       poilo cervo i vem.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

A mãe repreende a filha por esta ter rompido o manto no baile.
Se este é o resumo possível do corpo das estrofes, cabe salientar a originalidade de um refrão algo misterioso (até quanto ao sujeito da enunciação) e cuja ligação aos dísticos não parece imediata. Mas que liga claramente a cantiga ao ciclo "dos cervos", devendo, pois, ser entendido neste contexto (a fonte como o lugar do encontro erótico e o cervo como símbolo da sexualidade masculina).
Ao rompimento do brial, para pesar da mãe, clara alusão à perda de virgindade, vem juntar-se, pois, a imagem do cervo que vai beber à fonte (oculta na folhagem?), num quadro delicado mas fortemente erótico.
Neste contexto, não deixa de ser curiosa a dificuldade com que nos deparamos na edição do refrão: como dizemos na nota de leitura (L) ao v. 3, na sua primeira ocorrência, ambos os manuscritos transcrevem namorado e não cervo (Pois o namorado i vem/ esta fonte seguide-a bem/ pois o namorado i vem). Mas em todas as estrofes seguintes (onde, como habitualmente, o copista só transcreveu o 1º verso), lemos: Pois o cervo i vem. Atendendo ao caráter sempre alusivo das composições de Pero Meogo, considerámos erro a primeira ocorrência (que torna explícito o que é implícito), como fizeram muitos dos editores da cantiga (embora outros1 tenham optado por manter o termo do 1º refrão ao longo da cantiga, alterando a lição dos restantes). Não sendo, no entanto, a questão totalmente evidente, aqui alertamos para o problema, deixando ao leitor a faculdade de julgar por si.

Referências

1 Árias Freixedo, Xosé (2003), Antoloxia da lírica galego-portuguesa, Vigo, Edicións Xerais, 797.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão e Paralelística
Cobras alternadas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1191, V 796

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1191

Cancioneiro da Vaticana - V 796


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Fostes, filha, eno bailar      versão audio disponível

Versão de Paulina Ceremużyńska

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas