Nota geral: A mãe repreende a filha por esta ter rompido o manto no baile. Se este é o resumo possível do corpo das estrofes, cabe salientar a originalidade de um refrão algo misterioso (até quanto ao sujeito da enunciação) e cuja ligação aos dísticos não parece imediata. Mas que liga claramente a cantiga ao ciclo "dos cervos", devendo, pois, ser entendido neste contexto (a fonte como o lugar do encontro erótico e o cervo como símbolo da sexualidade masculina). Ao rompimento do brial, para pesar da mãe, clara alusão à perda de virgindade, vem juntar-se, pois, a imagem do cervo que vai beber à fonte (oculta na folhagem?), num quadro delicado mas fortemente erótico. Neste contexto, não deixa de ser curiosa a dificuldade com que nos deparamos na edição do refrão: como dizemos na nota de leitura (L) ao v. 3, na sua primeira ocorrência, ambos os manuscritos transcrevem namorado e não cervo (Pois o namorado i vem/ esta fonte seguide-a bem/ pois o namorado i vem). Mas em todas as estrofes seguintes (onde, como habitualmente, o copista só transcreveu o 1º verso), lemos: Pois o cervo i vem. Atendendo ao caráter sempre alusivo das composições de Pero Meogo, considerámos erro a primeira ocorrência (que torna explícito o que é implícito), como fizeram muitos dos editores da cantiga (embora outros1 tenham optado por manter o termo do 1º refrão ao longo da cantiga, alterando a lição dos restantes). Não sendo, no entanto, a questão totalmente evidente, aqui alertamos para o problema, deixando ao leitor a faculdade de julgar por si.
Referências 1 Árias Freixedo, Xosé (2003), Antoloxia da lírica galego-portuguesa, Vigo, Edicións Xerais, 797.
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