Nota geral: Mais uma composição de Pero Meogo com uma forte componente simbólica. Nela, a moça conta ao seu amigo como, num verde prado, viu um grupo de cervas e cervos. Ainda sob o efeito do prazer que sentiu ao vê-los, lavou os seus cabelos, atou-os depois em tranças com um fio de ouro, e dispôs-se a esperá-lo. O locus amoenus, isolado e propenso a encontros amorosos, a lavagem dos cabelos, soltos e logo depois ligados com fio de ouro, a que se vêm juntar os cervos selvagens (machos e fêmeas) em liberdade, constituem um quadro idílico mas também fortemente sensual, cujo caráter simbólico é evidente. Mas a arte de Pero Meogo comprova-se também, por exemplo, no efeito sinestésico que a referência ao "ouro" consegue provocar no leitor (que eventualmente visualizará uma moça com cabelos loiros, quando, efetivamente, nada nos é dito sobre a sua cor): um "ouro" que, se aqui serve para "ligar" os cabelos, apela ainda, implicitamente, à imagem do anel que "liga" simbolicamente os apaixonados. Também formalmente a cantiga reforça este quadro, sendo de salientar, para além da simplicidade do refrão (que torna o amigo presente em todas as estrofes), o artifício das rimas chamadas femininas/ masculinas nas quatro primeiras estrofes, e a técnica do leixa-pren nas quatro últimas.
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