| | | Pero Meogo | | | |
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|  | | | [Levou-s'aa alva], levou-s'a velida, |  | | | vai lavar cabelos na fontana fria; |  | | | leda dos amores, dos amores leda. | | | | | [Levou-s'aa alva], levou-s'a louçana, | | 5 | | vai lavar cabelos na fria fontana; | | | | leda dos amores, dos amores leda. | | | | | Vai lavar cabelos na fontana fria, | | | | passou seu amigo, que lhi bem queria; | | | | leda dos amores, dos amores leda. | | | 10 | | Vai lavar cabelos na fria fontana, | | | | passa seu amigo, que [a] muit'a[ma]va; | | | | leda dos amores, dos amores leda. | | | | | Passa seu amigo, que lhi bem queria, |  | | | o cervo do monte a áugua volvia; | | 15 | | leda dos amores, dos amores leda. | | | | | Passa seu amigo que a muit'amava, | | | | o cervo do monte volvia [a] áugua; | | | | leda dos amores, dos amores leda. |
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| Nota geral: Ao romper do dia, a moça, alegre e enamorada, vai à fonte lavar os cabelos; por lá passa então o seu amigo, que a ama; e os cervos do monte revolvem a água. Será esta talvez a mais célebre cantiga do ciclo "dos cervos" de Pero Meogo, e uma das mais conhecidas de toda a lírica galego-portuguesa. À sábia mistura de símbolos tradicionais de cariz erótico (o lavar de cabelos, o encontro dos apaixonados numa fonte isolada), junta-se aqui a poderosa imagem final dos cervos revolvendo a água (os cervos, símbolos da sexualidade masculina, a alterar a limpidez feminina da água), numa clara alusão a um desfecho assumidamente sexual. Mas a excelência da arte de Pero Meogo nota-se também nos pequenos detalhes, como o cuidado pormenor do verbo "passar": o amigo passa por ali, como se o encontro fosse casual - ou como se a perspetiva fosse a da moça, preparando as futuras explicações a dar à mãe. Na verdade, tenha-se ainda em atenção que, se não ouvimos, nesta cantiga, nenhuma voz feminina (antes a narração do episódio por uma voz não identificada), nem por isso ela deixa de pertencer, quer pelo vocabulário, quer, exatamente, por esta perspetiva, ao universo das cantigas de amigo. Acrescente-se que também este caráter narrativo, sem intervenção direta de uma voz feminina, é retomado por D. Dinis na sua igualmente célebre cantiga Levantou-s´a velida, cujo modelo terá sido seguramente esta composição de Pero Meogo.
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