Paio Soares de Taveirós


 Quantos aqui d'Espanha som,
todos perderom o dormir
com gram sabor que ham de s'ir;
mais eu nunca sono perdi,
5des quando d'Espanha saí,
ca mi o perdera já entom.
  
E eles, si Deus me perdom,
desejam sas terras assi
que nom dormirom muit'há i;
10mais, pois i forem, dormirám,
 ca nom desejam al, nem ham
outra coita, se esta nom.
  
E estou end'eu mui peor,
que cuid'i a perder o sem,
15desejando sempr'aquel bem
do mundo mais grave d'haver,
como desejar bem fazer
da mui fremosa mia senhor.
  
E, de pram, est est'o maior
20bem que hoj'eu posso saber;
e Deus, que mi a fez bem querer,
se m'este bem quisesse dar,
nom me cuidaria cambiar
por rei nem por emperador.



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Nota geral:

O início desta cantiga, pelas referências muito concretas e mesmo biográficas que comporta - o trovador está fora de Espanha, integrado num séquito ou grupo, provavelmente militar - , constitui uma abertura singular para uma cantiga de amor. Singularidade que se esbate um pouco a partir da segunda estrofe, assumindo a cantiga a partir daí um registo que, sem deixar de ser original, está mais próximo da normativa do género.
Diz-nos, pois, o trovador que, na situação em que se encontram, longe de Espanha, todos os seus companheiros perderam já o sono, ansiando pelo regresso. De si próprio, no entanto, não pode dizer o mesmo - mas apenas porque já em Espanha não conseguia dormir. De resto, se eles agora não dormem, assim que regressarem às suas terras dormirão, pois nada mais os atormenta. Mas ele não terá a mesma sorte: o desejo pela sua formosa senhora continuará a tirar-lhe o sono, levando-o à loucura. Acrescenta, no entanto: porque ela é o bem mais precioso pelo qual anseia, se Deus permitisse que ela lhe fosse favorável, não trocaria a sua posição pela de um rei ou de um imperador.
Se não é fácil localizar exatamente o lugar onde o trovador se encontraria (até porque os dados biográficos a seu respeito são escassos), é possível que ele estivesse algures além-Pirinéus, já que o termo Espanha designava geralmente na época a Península Ibérica no seu todo (a Hispânia romana).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares (rima a dobla)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 33, B 148

Cancioneiro da Ajuda - A 33

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 148


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas