Toponímia referida na cantiga:
  (linha 20)

Martim Soares

Rubrica:

 

Esta cantiga fez Martim Soares a um cavaleiro que era chufador e que dezia que vinha d'Outramar.


Pero nom fui a Ultramar,      ←
muito sei eu a terra bem,      ←
 per Sueir'Eanes, que en vem,      ←
segundo lh'eu contar:      ←
 5diz que Marselha jaz além      ←
do mar e Acre jaz aquém,      ←
e Somportes log'i a par.      ←
  
E as jornadas sei eu bem,      ←
como lhi eiri oí falar:      ←
10diz que pod'ir, quem bem andar,      ←
 de Belfurad'a Santarém,      ←
se noutro dia madurgar,      ←
 e ir a Nogueirol jantar      ←
 e maer a Jerusalém.      ←
  
15E diz que viu ũũ judeu      ←
que viu prender Nostro Senhor;      ←
e haveredes i gram sabor      ←
se vo-lo contar, cuido-m'eu;      ←
diz que é [um] judeu pastor,      ←
 20natural de Rocamador,      ←
e que há nom[e] Dom Andreu.      ←
  
Do Sepulcro vos [er] direi,      ←
 per u andou, ca lho oí      ←
a Dom Sueiro; bem assi      ←
25como m'el disse, vos direi:      ←
de Santarém três legoas é,      ←
e quatr'ou cinco de Loulé,      ←
e Belfurado jaz log'i.      ←
  
Per u andou Nostro Senhor,      ←
30dali diz el que foi romeu;      ←
e depois que lh'o Soldam deu      ←
o perdom, houve gram sabor      ←
 de se tornar; e foi-lhi greu      ←
 d'andar Coira e Galisteu      ←
 35com torquis do Emperador.      ←



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Nota geral:

Este Sueiro Eanes é um dos alvos prediletos dos trovadores do círculo afonsino, em geral pelas suas veleidades na arte de trovar. Aqui Martim Soares troça de uma sua alegada peregrinação à Terra Santa. Note-se que é no jogo com as coordenadas geográficas que reside toda a ironia da cantiga.
De resto, Carlos Paulo Martínez Pereiro, num artigo onde procede a uma leitura atenta desta cantiga1, sugere que alguns dos topónimos referidos funcionarão eventualmente em modo de equívoco (como Belfurado, o "belo furado").

Referências

1 Martínez Pereiro, Carlos Paulo (1999), "Por volta da ´interpretatio nominis´ na literatura galego-portuguesa", in A indócil liberdade de nomear, A Coruña, Espiral Maior.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 143
(C 144)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 143


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas