Bernal de Bonaval


Pero m'eu moiro, mia senhor,
nom vos ous'eu dizer meu mal,
ca tant'hei de vós gram pavor
que nunca tam grand'houvi d'al;
 5e por en vos leix'a dizer
meu mal, e quer'ante morrer
por vós ca vos dizer pesar.
  
E por aquesto, mia senhor,
viv[o] em gram coita mortal
10que nom poderia maior.
Ai, Deus! Quem soubess'ora qual
e vo-la fezess'entender,
e nom cuidass'i a perder
contra vós, por vos i falar!
  
15E Deu'lo sabe, mia senhor,
que, se m'El contra vós nom val,
ca mi seria mui melhor
mia morte ca mia vid', em tal
que fezess'i a vós prazer,
20que vos eu nom posso fazer,
nem mi o quer Deus nem vós guisar.
  
E com dereito, mia senhor,
peç'eu mia morte, pois mi fal
tod'o bem de vós e d'Amor.
 25E pois meu temp'assi me sal
amand'eu vós, dev'a querer
ante mia morte ca viver
 coitad', e pois nom gradoar
  
de vós, que me fez Deus veer
30por meu mal, pois, sem bem fazer,
vos hei já sempre desejar.



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Nota geral:

Morrendo de amor, o trovador não ousa confessar as suas mágoas à sua senhora, por receio de a importunar. Bem gostaria que alguém percebesse o seu sofrimento e lho contasse, evitando assim que fosse ele mesmo a falar. Mas está disposto a morrer, se entendesse que isso faria prazer à sua senhora. Uma morte muito justa, já que valerá mais morrer do que viver eternamente coitado e sem o seu favor.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra(s)-rima: (vv. 1 de cada estrofe)
mia senhor
Palavra perduda: v. 7 de cada estrofe
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1063, V 654

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1063

Cancioneiro da Vaticana - V 654


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas