Pero de Ver


Nom sei eu tempo quand'eu nulha rem
d'Amor houvess'ond'houvesse sabor;
 ca nom quis Deus, nem filhei tal senhor
a que ousasse nulha rem dizer
5do que seria meu viç'e meu bem,
nem de qual guisa mi d'Amor mal vem:
fazer no mund', a meu pesar, viver.
  
E se outr'home, segundo meu sem,
tanto soubesse quant'eu sei d'Amor,
10bem saberia com'é forçador
e sem mesura e de gram poder;
quando soubess'em qual coita me tem,
bem saberia como vive quem
faz Deus no mund'a seu pesar viver.
  
15Eu que no mundo viv'a meu pesar,
eu viveria muit'a meu prazer,
se eu d'Amor bem podess'haver:
meu bem seria quant'hoj'é meu mal;
maila senhor que mi Amor faz filhar
20essa me soube de guisa guisar
que nom houvess'eu bem d'Amor, nem d'al.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

O trovador garante que nunca o Amor me deu nada de bom, não só porque Deus assim não quis, mas também porque foi amar uma senhora à qual não ousa declarar o seu amor e o seu sofrimento. De resto, acrescenta, qualquer um com a sua experiência compreenderia como o Amor é violento, desmesurado e poderoso. Se ele o favorecesse, decerto que poderia viver feliz. Mas isso não quer a senhora que o Amor o fez amar, e que só deseja o seu mal.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
Palavra(s)-rima: imperf. (em I e II, v. 7)
no mund', a meu/seu pesar, viver
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1061, V 651

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1061

Cancioneiro da Vaticana - V 651


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas