Anónimo

Rubrica:

     

Este lais fez Elis, o Baço, que foi Duc de Sansonha, quando passou aa Gram Bretanha, que ora chamam Ingraterra. E passou lá no tempo de rei Artur, para se combater com Tristam, porque lhe matara o padre em ũa batalha. E andando um dia em sa busca, foi pela Joiosa Guarda u era a rainha Iseu de Cornualha. E viu-a tam fremosa que adur lhe poderia home no mundo achar par. E namorou-se entom dela e fez por ela este lais. Este lais posemos acá porque era o melhor que foi fe[i]to.


Amor, des que m'a vós cheguei,
bem me posso de vós loar,
ca mui pouc'ant', a meu cuidar,
valia; mais pois emmendei
  
5tam muit'em mim quanto m'ant'eu
era de pobre coraçom,
assi que nẽum bem entom
nom cuidava que era meu;
  
e sol nom me preçavam rem,
10ante me tinham tam em vil
que, se de mi falavam mil,
nunca deziam nẽum bem;
  
e des que m'eu a vós cheguei,
Amor, e tod'al fui quitar
15senom de vos servir punhar,
log'eu des i em prez entrei
  
- que mi, ante de vós, era greu;
e per vo-l'hei, e per al nom -
assi que, d'u os bõos som,
20mais loam meu prez ca o seu.
  
[E], Amor, pois eu al nom hei,
nem haverei nulha sazom,
senom vós, o meu coraçom
nom será senom da que sei:
  
25mui fremosa e de gram prez,
e que polo meu gram mal vi,
e de que sempre atendi
mal, ca bem nunca m'ela fez;
  
e por en vos rog'eu, Amor,
30que me façades dela haver
algum bem, pois vó'lo poder
havedes. E mentr'eu já for
  
vivo, cuido vo-lo servir,
e ar direi, se Deus quiser,
35bem de vós, pois que me veer
per vós, de que mi há de viir;
  
e se m'esto nom fazedes,
que sei que será vosso bem,
cofonda-vos por en quem tem
40em seu poder [...].
  
Amen! Amen! Amen!
Amen! Amen! Amen!
Amen! Amen! Amen!



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Nota geral:

Esta é a primeira composição que nos é transmitida pelo Cancioneiro da Biblioteca Nacional, e também o primeiro dos cinco lais com os quais o compilador decidiu abrir a sua grande recolha da poesia trovadoresca. Trata-se de um curto conjunto de composições relativas à chamada "Matéria de Bretanha", de autor ou autores desconhecidos, algumas delas, aliás (como é precisamente o caso desta primeira), atribuídas pelas suas rubricas às próprias personagens que põem em cena.
Para algumas das cinco composições é possível localizar a fonte (o que foi feito por Carolina Michaelis1 e, mais recentemente, por Harvey Sharrer2, Megale3 ou Arbor Aldea4). Este primeiro lai é a tradução livre do "Lai de Hélys" (Elis, na tradução), incluído no Tristan en prose. Como explica a rubrica, é cantado por Elis, em honra de Isolda, por quem se apaixona quando procura vingança de Tristão.

Referências

1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1900-1901), "Lais de Bretanha", in Revista Lusitana, VI.
      Aceder à página Web


2 Sharrer, Harvey (1988), “La materia de Bretaña en la poesía gallego-portuguesa.” in Actas del I Congreso de la Asociación Hispánica de Literatura Medieval: Santiago de Compostela, 1985, Ed.Vicenç Beltrán. Barcelona: PUP, Barcelona: PUP.

3 Megale, Heitor (2002), “As cinco cantigas bretãs portuguesas”, Santa Barbara Portuguese Studies, VI.

4 Arbor Aldea, Mariña (2010), "Lais de Bretanha galego-portugueses e tradición manuscrita: as relacións entre B e L", in XXV Congrès Internationale de Linguistique et Philologie Romanes, Insbruck, 2007 , Berlin-N.York, De Gruyter.



Nota geral


Descrição

Lai
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1, L 1
(C 1)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas