Pesquisa no glossário
  (linha 21)

Anónimo

Rubrica:

     

Este lais fez Elis, o Baço, que foi Duc de Sansonha, quando passou aa Gram Bretanha, que ora chamam Ingraterra. E passou lá no tempo de rei Artur, para se combater com Tristam, porque lhe matara o padre em ũa batalha. E andando um dia em sa busca, foi pela Joiosa Guarda u era a rainha Iseu de Cornualha. E viu-a tam fremosa que adur lhe poderia home no mundo achar par. E namorou-se entom dela e fez por ela este lais. Este lais posemos acá porque era o melhor que foi fe[i]to.


Amor, des que m'a vós cheguei,      ←
bem me posso de vós loar,      ←
ca mui pouc'ant', a meu cuidar,      ←
valia; mais pois emmendei      ←
  
5tam muit'em mim quanto m'ant'eu      ←
era de pobre coraçom,      ←
assi que nẽum bem entom      ←
nom cuidava que era meu;      ←
  
e sol nom me preçavam rem,      ←
10ante me tinham tam em vil      ←
que, se de mi falavam mil,       ←
nunca deziam nẽum bem;      ←
  
e des que m'eu a vós cheguei,      ←
Amor, e tod'al fui quitar      ←
15senom de vos servir punhar,      ←
log'eu des i em prez entrei      ←
  
- que mi, ante de vós, era greu;      ←
e per vo-l'hei, e per al nom -      ←
assi que, d'u os bõos som,      ←
20mais loam meu prez ca o seu.      ←
  
[E], Amor, pois eu al nom hei,       ←
nem haverei nulha sazom,      ←
senom vós, o meu coraçom       ←
nom será senom da que sei:      ←
  
25mui fremosa e de gram prez,       ←
e que polo meu gram mal vi,       ←
e de que sempre atendi      ←
mal, ca bem nunca m'ela fez;      ←
  
e por en vos rog'eu, Amor,      ←
30que me façades dela haver       ←
algum bem, pois vó'lo poder      ←
havedes. E mentr'eu já for      ←
  
vivo, cuido vo-lo servir,      ←
e ar direi, se Deus quiser,       ←
35bem de vós, pois que me veer       ←
per vós, de que mi há de viir;      ←
  
e se m'esto nom fazedes,      ←
que sei que será vosso bem,       ←
cofonda-vos por en quem tem       ←
40em seu poder [...].      ←
  
Amen! Amen! Amen!       ←
Amen! Amen! Amen!       ←
Amen! Amen! Amen!      ←



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Esta é a primeira composição que nos é transmitida pelo Cancioneiro da Biblioteca Nacional, e também o primeiro dos cinco lais com os quais o compilador decidiu abrir a sua grande recolha da poesia trovadoresca. Trata-se de um curto conjunto de composições relativas à chamada "Matéria de Bretanha", de autor ou autores desconhecidos, algumas delas, aliás (como é precisamente o caso desta primeira), atribuídas pelas suas rubricas às próprias personagens que põem em cena.
Para algumas das cinco composições é possível localizar a fonte (o que foi feito por Carolina Michaelis1 e, mais recentemente, por Harvey Sharrer2, Megale3 ou Arbor Aldea4). Este primeiro lai é a tradução livre do "Lai de Hélys" (Elis, na tradução), incluído no Tristan en prose. Como explica a rubrica, é cantado por Elis, em honra de Isolda, por quem se apaixona quando procura vingança de Tristão.

Referências

1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1900-1901), "Lais de Bretanha", in Revista Lusitana, VI.
      Aceder à página Web


2 Sharrer, Harvey (1988), “La materia de Bretaña en la poesía gallego-portuguesa.” in Actas del I Congreso de la Asociación Hispánica de Literatura Medieval: Santiago de Compostela, 1985, Ed.Vicenç Beltrán. Barcelona: PUP, Barcelona: PUP.

3 Megale, Heitor (2002), “As cinco cantigas bretãs portuguesas”, Santa Barbara Portuguese Studies, VI.

4 Arbor Aldea, Mariña (2010), "Lais de Bretanha galego-portugueses e tradición manuscrita: as relacións entre B e L", in XXV Congrès Internationale de Linguistique et Philologie Romanes, Insbruck, 2007 , Berlin-N.York, De Gruyter.



Nota geral


Descrição

Lai
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1, L 1
(C 1)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas