Martim Moxa Trovador medieval
Nacionalidade: Galega?
Notas biográficas:
Trovador, provavelmente clérigo, cuja biografia, apesar de ter vindo a ser objeto de alguma atenção, continua polémica. As dúvidas começam, desde logo no seu apelido, já que nos apógrafos italianos e também na Tavola Colocciana a forma varia entre Moxa e Moya, o que não é indiferente na hora de determinar a sua origem. Na verdade, a sua eventual origem aragonesa, inicialmente sugerida por D. Carolina Michaëlis1, e em seguida desenvolvida por Stegagno Picchio2, pôde assim ser contestada por Resende de Oliveira3, que indica como terra de origem do trovador a localidade castelhana de Moya, próxima de Cuenca, e junto à fronteira aragonesa. Para além do topónimo, acrescenta ainda este investigador que o apelido familiar do trovador, Moya, aparece ligado a personagens com alguma projeção na corte de Afonso X, como seria o caso de um Estêvão Moya, embaixador régio junto da nobreza rebelde, em 1272. O trovador pertenceria a esta linhagem e seria, pois, castelhano. Já posteriormente, Viñez4 localizou igualmente um Martin de Moya beneficiado no Repartimiento de Murcia, mas figurando junto a sua mulher, o que, como esta investigadora também refere, não parece coadunar-se com o estatuto de clérigo que parece ter sido o do trovador (estatuto que uma cantiga que lhe é dirigida claramente lhe atribui, e que a localização das suas composições nos cancioneiros, numa zona onde predominam os clérigos, parece confirmar). Na verdade, embora estes dados referentes ao apelido Moya sejam interessantes, o facto é que, nos manuscritos, a forma Moxa não só é a dominante, como chega mesmo a ocorrer em rima com "roxa", numa composição de João de Gaia que alude ao trovador. Uma parte dos investigadores, entre os quais Tavani5, descartam, pois, a forma Moya, defendendo ser Moxa a forma correta para o seu apelido. Seguindo esta pista, recentemente Ron Fernández6 deu conta de um documento da região de Pamplona, datado de 1266, no qual surgem, como confirmantes, um don Martin Motça e um don Johan Peritz Moçta, o primeiro dos quais podendo ser o trovador. Neste caso, a grafia navarra parece efetivamente corresponder à forma galego-portuguesa Moxa. De resto, e no que toca ao estatuto desta linhagem, tudo indica tratar-se de uma família de alguma importância social na cidade de Pamplona, acrescentando o mesmo investigador que um Miguel Motça exerceu mesmo o cargo de alcaide da corte de Navarra entre 1315 e, pelo menos, 1317. Pela nossa parte, localizámos um don Martin Motça, alcaide da povoação de San Nicolás de Pamplona em 1251 (doc. nº 1467). Ainda mais recentemente, no entanto, José António Souto Cabo8 localizou, num documento do Arquivo da Catedral de Santiago, datado de 1281 (Livro segundo de constituições do ACS), um Martinus Iohannis, dictus “Moxe", cónego compostelano que tinha antes desta data morado na cidade, e que contava com propriedades em Lestrove (c. Dodro, a sudoeste de Padrón). Souto Cabo avança ainda que o trovador poderia ser filho de um João Martins Moxe, que confirma o testamento de um outro cónego compostelano, em 1276, e eventualmente irmão de um Pero Anes Moxe, documentado na cidade entre 1269 e 1310 (sendo, nesta data, igualmente cónego). São dados que nos parecem consistentes, e que talvez invalidem, pois, todas as hipóteses anteriores. Seja como for, e atendendo a algumas das suas composições, o que parece certo é ter Martim Moxa frequentado a corte castelhana de Afonso X. Já quanto ao seu período de atividade, as balizas são igualmente algo fluidas. As últimas décadas do século XIII são geralmente apontadas como as mais prováveis (coincidindo, aliás, com o arco cronológico apontado por Souto Cabo). Mas a referência aos cantares de Martim Moxa que encontramos na já referida composição de João de Gaia (um trovador português provavelmente ativo entre 1287 e 1330), juntamente com a referência à sua longevidade, que é o tema central de uma outra cantiga que o satiriza, introduzem alguma incerteza nesta matéria. Acrescente-se que estas duas últimas referências levaram D. Carolina Michaëlis1 a sugerir que, no final da vida, Martim Moxa poderia igualmente ter frequentado a corte portuguesa (de D. Dinis ou mesmo de Afonso IV), hipótese de que não temos qualquer confirmação documental.
Referências 1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904), p. 466.
2 Stegagno Picchio, Luciana (1968), Martin Moya. Le Poesie, Roma.
3 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.
4 Viñez Sánchez, Antonia (1996), "Documentación de trovadores", in La literatura en la época de Sancho IV, Carlos Alvar e Lucía Megías (ed.) , Alcalá de Henares, servicio de publicaciones de la Universidad de Alcalá de Henares, p. 536.
5 Tavani, Giuseppe (1986), A Poesía Lírica Galego-Portuguesa, Vigo, Editorial Galaxia, p. 304.
6 Ron Fernández, Xavier (2005), “Carolina Michaelis e os trobadores representados no Cancioneiro da Ajuda”, in Carolina Michaelis e o Cancioneira da Ajuda hoxe, Santiago de Compostela, Xunta de Galicia. Aceder à página Web
7 Martín González, Margarita (Ed.) (1987), Colección Diplomática de los reyes de Navarra de la dinastía de Champaña. Teobaldo I (1234-1253), Fuentes Documentales Medievales del País Vasco (11). Eusko Ikaskuntza. Aceder à página Web
8 Souto Cabo, José António (2012), "En Santiago, seend’ albergado en mia pousada. Nótulas trovadorescas compostelanas", in Verba, 39. Aceder à página Web
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Cantigas (por ordem alfabética):
Algũa vez dix'eu em meu cantar Cantiga de Amor
Amigos, cuid'eu que Nostro Senhor Sirventês moral
Amor, de vós bem me posso loar Cantiga de Amor
Amor, nom qued'eu amando Cantiga de Amor
Atanto querria saber Cantiga de Amor
Bem poss'Amor e seu mal endurar Cantiga de Amor
Cativo! mal conselhado! Cantiga de Amor
Em muit'andando, cheguei a logar Sirventês moral
Maestr'Acenço, dereito faria Escárnio e Maldizer
[...] Mais ambos i faredes o melhor Cantiga de Amor
O gram prazer e gram viç'em cuidar Cantiga de Amor
Per como achamos na Santa Escritura Sirventês moral
Per quant'eu vejo Sirventês moral
Pero mi fez e faz Amor Cantiga de Amor
Por vós, senhor fremosa, pois vos vi Cantiga de Amor
Que grave coita que m'é [de] dizer Cantiga de Amor
Quem viu o mundo qual o eu já vi Género incerto
Venho-vos, mia senhor, rogar Cantiga de Amor
Autoria duvidosa: - Vós que soedes em corte morar Tenção
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