Lopo Lias
Trovador medieval


Nacionalidade: Galega

Notas biográficas:

Trovador galego, sobre cuja biografia e cronologia subsistem algumas dúvidas. Na verdade, e embora as suas composições conservadas nos apógrafos italianos sejam transcritas na parte inicial das cantigas de escárnio, o que parece indicar uma cronologia recuada ou, pelo menos, correspondente à primeira metade do século XIII, Resende de Oliveira1, na esteira de Rodrigues Lapa, coloca-o em finais desse século, identificando-o com o homónimo cuja viúva, Rica Martins, aparece na documentação do Mosteiro de Toxosoutos2 (doc. 789), detendo uma propriedade em Outeiros que lhe pertencera. Embora seja este um documento não datado, o facto de estar escrito em romance e não em latim, juntamente com o facto de surgir na zona final do cartulário, zona essa que inclui documentos copiados e acrescentados já no século XIV, levou Resende de Oliveira a atribuir-lhe uma data tardia e colocar, pois, a cronologia do trovador em finais do século XIII ou inícios do seguinte. Acrescente-se que, na documentação do mesmo mosteiro, encontramos ainda um outro documento (nº 119), este datado de 1247, que refere um D. Elias e um João Lias, os quais, ainda segundo este investigador, poderiam ser, respetivamente, o pai e um irmão de Lopo Lias. Assim sendo, e mesmo aceitando a hipótese de o primeiro dos documentos referidos datar de finais do século XIII, uma vez que nele D. Lopo Lias é referido como já falecido (e considerando até que a diferença de idades entre ele e sua mulher poderia ser, como era usual na época, significativa), nada parece impedir que a cronologia de D. Lopo possa ser bem mais recuada.
Na verdade, muito recentemente José António Souto Cabo (2011)3 tornou público um outro documento, proveniente do Tombo da catedral de Santiago e datado de 1219, no qual um dos confirmantes é exatamente um Lupus Elie, milles, cavaleiro que este investigador crê poder ser identificado com o trovador. Entre os confirmantes deste documento surge, aliás, um Nuno Fernandes, cavaleiro de Orzelhão (Ourense), o que não deixa de ser significativo, dadas as várias referências a esta localidade que encontramos nas cantigas de D. Lopo Lias. Souto Cabo sugere, pois, as datas de 1190-1260 como arco cronológico para a vida do trovador. Tendo em consideração todos estes dados, é possível, pois, que tenhamos de colocar D. Lopo Lias na fase inicial da poesia galego-portuguesa (o que está de acordo, aliás, com a colocação da sua obra nos apógrafos italianos).
Sobre a biografia específica do trovador, não temos, no entanto, quaisquer outros dados, senão os que nos são fornecidos pelas suas cantigas, e que indicam que, em algum momento, terá frequentado a corte régia (de Afonso IX? Do jovem Fernando III de Castela?). De uma cantiga que o cavaleiro João Romeu de Lugo lhe dirige (provavelmente já numa fase tardia da sua vida) ficamos igualmente a saber que seria cego de um olho, o que talvez aponte para a sua participação nas campanhas militares da chamada reconquista cristã. Mas é esta uma hipótese sem confirmação documental.
Acrescente-se que a grafia do apelido de D. Lopo tem variado entre Lias (que é a forma dominante dos cancioneiros e que será proveniente do patronímico Elias) e Lians (opção tomada por Pelligrini4, que entende tratar-se do topónimo S. Eulália de Lians, na região da Corunha). Embora também não haja certezas sobre esta matéria, os testemunhos dos cancioneiros, juntamente com os referidos documentos de Toxosoutos parecem indicar ser Lias (filho de Elias) a forma correta para o seu apelido.


Referências

1 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.

2 Pérez Rodríguez, Francisco Javier (Ed.) (2004), Os documentos do tombo de Toxos Outos, Santiago de Compostela : Consello da Cultura Galega.

3 Souto Cabo, José António (2011), "Lopo Lias: entre Orzelhão e Compostela", Diacrítica, 25.3, Universidade do Minho.
      Aceder à página Web


4 Pellegrini, Silvio (1969), "Il canzionere de D. Lopo Liáns", in Annali dell'Istituto Universitario Orientale - Sezione Romanza, XI .

Ler todas as cantigas (por ordem dos cancioneiros)


Cantigas (por ordem alfabética):


A dona de Bagüin
Cantiga de Escárnio e maldizer

A dona fremosa do Soveral
Cantiga de Escárnio e maldizer

A Dona Maria [há] soidade
Cantiga de Escárnio e maldizer

A mi quer mal o infançom
Cantiga de Escárnio e maldizer

Airas Moniz, o zevrom
Cantiga de Escárnio e maldizer

Ao lançar do pao
Cantiga de Escárnio e maldizer

Da esteira vermelha cantarei
Cantiga de Escárnio e maldizer

Desto som os zevrões
Cantiga de Escárnio e maldizer

Em este som de negrada
Cantiga de Escárnio e maldizer

Enmentar quer'eu do brial
Cantiga de Escárnio e maldizer

- Escudeiro, pois armas queredes
Cantiga de Escárnio e maldizer

Muito mi praz d'ũa rem
Cantiga de Escárnio e maldizer

O infançom houv'atal
Cantiga de Escárnio e maldizer

Ora tenho guisado
Cantiga de Escárnio e maldizer

Os zevrões forom buscar
Cantiga de Escárnio e maldizer

Quem hoj'houvesse
Cantiga de Escárnio e maldizer

Se m'el-rei dess'algo, já m'iria
Cantiga de Escárnio e maldizer

Sela aleivosa, em mao dia te vi
Cantiga de Escárnio e maldizer

Tercer dia ante Natal
Cantiga de Escárnio e maldizer